Lucas Crispim e uma lição: futebol não é novela. Não existem mocinhos ou vilões e sim partidas com variações e desafios

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Direto ao ponto. Torcedores incapazes de utilizarem interpretação de texto tentaram tripudiar em cima da análise prévia que fizemos neste espaço sobre o papel que seria desempenhado por Lucas Crispim no dérbi.

Se você leitor e leitora deste Só Dérbi for inteligente (qualidade da maioria) verá que fiz uma descrição em cima daquilo que já tinha produzido o jogador. Era um desafio para a Fábio Moreno. Ele passou no teste. Parabéns. Merece todos os elogios. Quanto aos torcedores incapazes de possuir sinapse e poder de análise e atributos cognitivos e adeptos da ignorância, violência virtual ou real, o meu lamento.

Dito isso, é preciso descrever o mecanismo que deixou Lucas Crispim sem ação no jogo. De modo  sagaz, Fábio Moreno dificultou primeiramente a saída de bola com Bruno Silva, que não teve a liberdade de outras partidas.

Por que? Certamente porque sabia que a jogada rápida de transição com Lucas Crispim começa com um passe limpo vindo do setor defensivo. A palavra que definiu a neutralidade do futebol pontepretano é antecipação. Barreto e Vinicius Zanocelo não deixavam o camisa 10 raciocinar. Era um meio-campo competitivo e combativo. Pesado, como se diz no jargão da bola.

Culminou com a alteração aos 42 minutos do primeiro tempo quando Rickson entrou no lugar de Lucas Crispim. O discurso do senso comum afirma que a medida foi imprudente porque estava no final da etapa inicial e que tal postura pode afetar o relacionamento do treinador com o grupo.

Como diria uma personagem da “Praça é Nossa”, a Nina: nada a ver. O meio-campo do Guarani naquele momento encontrava-se fragilizado. Tanto que Camilo e Zanocelo tiveram liberdade para montar a trama que culminou no gol inaugural. Apesar do posicionamento com duas linhas de quadro e na retranca, era notória a falta de combatividade no meio-campo.

Sei que cenários condicionais não são plausíveis, mas pergunto: e se a Ponte Preta marcasse o segundo gol naqueles minutos que faltavam para o encerramento do primeiro tempo? Convicção de que muitos diriam que bom é “Luxemburgo que muda o time antes de ir para o vestiário”.

Mais: apostar que isso pode arrebentar a relação de Felipe Conceição com o grupo é delírio. Acompanhamos os treinos? Estamos no interior do vestiário? Temos total domínio sobre a relação de Lucas Crispim e o técnico bugrino? Então porque tomamos conclusões prontas e acabadas? Seres humanos são iguais? Construção de relação de confiança é algo uniforme?

Para quem está fora do processo, à primeira vista Conceição pode ter se precipitado. Mas a responsabilidade é dele. Ele que estava na beira do gramado. Ele é que tinha todo o cenário exposto. Então como que nós, sentados no sofá ou em aglomerações (erroneamente!) tiramos tantas conclusões e com informações tão rasas?

Já passou da hora de deixarmos de analisar futebol com a intenção de encontrar um mocinho e um vilão. Futebol não é novela. Nem a vida.

(Elias Aredes Junior- Foto de Thomaz Marostegan-Guaranipress)