Frequento estádios de futebol desde os 11 anos de idade e algo chama minha atenção: a presença maciça de jovens e adolescentes nas arquibancadas do Estádio Brinco de Ouro. Renovação de torcida é um fenômeno natural para quem disputa finais ou está em competições relevantes e com ídolos de projeção nacional. Nenhuma dessas características estão encaixadas no Guarani na atualidade.
Pare e pense um pouco. Desde 2001, a equipe já amargou nove rebaixamentos em competições nacionais e estaduais. Conseguiu quatro acessos e um vice-campeonato paulista? Sim, é verdade. Mas já são quatro anos sem conseguir uma classificação relevante. Mesmo assim, na Série A-2 de 2015 teve a melhor média de público, acima de quatro mil pessoas por jogo, e o noticiário do clube é acompanhado com fervor.
Após os jogos, a cena mais comum é você ver nos pontos de ônibus garotos de 10, 11 ou 12 anos e com a camisa oficial do clube. Se você analisar todo esse cenário e comparar com o esteriótipo consagrado, a conta não fecha. Não dá liga. Pouco importa. Dia após dia, pais conseguem convencer seus filhos de que encampar a bandeira bugrina é a solução.
Fica a dúvida: que argumento utilizam?Como convencem seus filhos a serem torcedores do Guarani se o principal rival está na Série A do Brasileiro e se existe a concorrência das equipes de São Paulo e do futebol europeu?
Dessa vez, ao invés de destrinchar tal fenômeno fui atrás de pessoas que me auxiliassem a responder tal dilema. A jornalista Juliana Sangion, 42 anos, tem dois filhos, de 10 e 7 anos e relata que a ação forte do pai e do avô foi decisiva para produzir dois novos bugrinos. Entre as estratégias estava a de levar ao campo, aquisições de uniformes completos e a viabilização dos garotos no papel de mascotes em alguns jogos. “Ou seja, a magia do futebol”, resume Sangion.
Colocar o garoto para dentro do Estádio foi a estratégia adotada pelo funcionário público Fabiano Duarte, de 40 anos. Hoje, com um filho de 21 anos e de 13 anos, ele conta com orgulho que transmitiu a paixão pelo Guarani, apesar das dificuldades vividas pela equipe no gramado. “Ele (o mais novo) começou a entrar com os jogadores em 2005, quando o time estava na segunda divisão, como no jogo contra o Avaí que teve 30 mil pessoas”, disse. “Ele começou a pegar gosto pelo futebol e ficou (torcedor do Guarani)”, arrematou.
O supervisor de vendas, Rogério Falcão, 40 anos, por sua vez, tem filhos de 15 e 10 anos, respectivamente e bugrinos. Um “intensivão” de jogos em Campinas e nas casas dos adversários bastaram para levar os garotos para o lado do alviverde. “Eles acompanham os jogos até pelo Smartphone e não cogitam torcer por clubes da capital”, disse o supervisor de vendas.
Decidi ficar nestes três casos. São exemplos que mostram algo que todos deveríamos entender: paixão por time de futebol não se explica e tal sentimento começará a ser renovado por esses garotos e pela torcida do Guarani a partir de domingo, às 11 horas, contra o Guaratinguetá.
(artigo escrito por Elias Aredes Junior)