No futuro, vamos chegar a uma triste conclusão: mortos não assistem dérbis. Já será tarde demais

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Eu poderia fazer centenas de posts sobre o confronto desta noite entre Ponte Preta e Guarani. Descrever os jogadores com maior capacidade de decisão do dérbi 196 e quais as consequências de resultado para um e outro. Futebol é meu meio de subsistência. A área que escolhi para exercer o jornalismo. Certamente após o jogo o texto estará no site Só Dérbi (www.soderbi.com.br), seja algo de minha autoria ou de outra pessoa. Só que hoje é diferente. Estou travado, triste, inconformado.  O campeonato deveria ser suspenso, como foi. Mas o derbi foi bancado. Dérbi? Em outra data! Faltou prudência. Ou sensibilidade. Pandemia é algo sério. Serissimo.

Não entra na minha cabeça homens engravatados, frios, distantes e ausentes de empatia decidindo a vida de 22 homens, arbitragem, delegados e mais as comissões técnicas que trabalharão nesta noite. Toda vida importa. Qualquer uma. Dinheiro é importante, mas recupera-se. Uma vida não. Não vale a pena correr risco. Nunca.

Bugrinos e pontepretanos falam do jogo. Só consigo pensar em jovens, adultos e nos idosos que podem ser vitimados por um vírus que se espalha rápido e deixa qualquer sistema de saúde em colapso. De joelhos. Mortes serão registradas. Mesmo assim, muitos em Campinas só querem pensar em futebol. Que mundo eles vivem? Que gente é essa que despreza o sofrimento humano em troca de efêmera (e gostosa!) comemoração de gol, uma piada ou uma tiração de sarro em rede social. Mas hoje o prazer do futebol é um insulto para quem vê o planeta em pânico. A bola pode esperar.

Torcedores e dirigentes falam do jogo e não dão a mínima bola para a doença. Acham que as autoridades “exageram”. Pensam até que existe Teoria da Conspiração. Combinam concentrações em frente ao estádio Brinco de Ouro para desafiarem as autoridades; torcidas organizadas não vêem risco em aglomerações. Consideram tudo um grande capricho. Coloque-me no lugar de agentes de saúde, médicos, enfermeiros e profissionais já habituados ao caos diante desse comportamento de como se “não houvesse amanhã”. Tudo caótico. Sem sentido.

O jogo vai passar, o resultado será eternizado em algum livro de história e no dia seguinte haverá festa. De um lado ou de outro. Enquanto isso, uma ameaça real espalha-se como vento. Pronto para destruir e dizimar. Como na Itália. Ou na Espanha.

Infelizmente, quando esses que fazem festa acordarem no futuro será tarde demais. Vão descobrir da maneira mais dolorosa que mortos não assistem dérbis.

(Elias Aredes Junior)