Ponte Preta: declaração no presente respalda a trajetória histórica: a aliança do clube com a democracia permanece. Apesar do desejo contrário de alguns…

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Interessante observar a história. Resgatar personagens e ícones e que foram decisivos para o erguimento de uma paixão. Ou clube, como queira. Neste dia 31 de março, em que as redes sociais (com razão) repudiam os malefícios do golpe militar de 1964 é interessante como a Ponte Preta caminhou no sentido contrário. Mesmo quando tudo parecia definitivo.

Todos os historiadores são unanimes em afirmar que o período de 1968, a decretação do AI-5 até a promulgação da anistia em 1979, foram os anos mais dramáticos e violentos da ditadura militar. Você citar generais e comandantes daquela época é fazer associação imediata com a violência e a opressão.

Existiam exceções. Uma atendia pelo nome de Rodolpho Pettená. Foi presidente da Macaca de 1974 a 1976. E em conversas com antigos colaboradores e lendo as obras de Sérgio Rossi, pode-se cravar: foi um democrata.

A determinação em prestar contas, em fazer uma gestão descentralizada e que desse protagonismo a várias pessoas era o comportamento de alguém comprometido com a troca de ideias, o debate e a democracia. “Na Ponte, é tido como mérito de Pettená a inclusão da Ponte Preta no Campeonato Nacional, sendo convidada a participar como o primeiro time do interior do Brasil. Para poder participar do  campeonato era necessário ter um excelente sistema de iluminação – por causa das transmissões de TV – e Pettená conseguiu as torres de iluminação para o Majestoso”, afirma o texto publicado no site oficial.

Ele foi substituído por Lauro Moraes Filho, com nítidas ligações com a Arena Nacional.

No início, a estratégia de utilizar a política para beneficiar a Ponte Preta teve resultados práticos e positivos. Algo retrato por Sérgio Rossi, no volume IV do livro da história da Ponte Preta, na página 327. “(…) No entender da alta cúpula política de Brasilia, era preciso quebrar a hegemonia do MDB em seu reduto maior, ou seja, em Campinas. Entre outras ajudas políticas, nada melhor do que levar o clube mais popular e de maior torcida da cidade e do interior paulista a categoria de disputante do Campeonato Brasileiro em sua divisão principal. Lembramos que nessa época vigorava o bipartidarismo: A Arena (Aliança Renovadora Nacional), partido de apoio ao governo, e o MDB (Movimento Democrático Brasileiro), partido da oposição(…)”, afirmou o trecho do livro.

A estratégia deu certo de inicio, pois a Macaca disputou a Taça de Ouro de 1976 e ficou na sexta posição.

Só que o prestígio de Lauro Moraes não era infalível e não serviu para nada na decisão do Paulistão de  1977. O sistema, o poder militar, queria acalmar a massa. E na opinião dos militares e do poder estabelecido o caminho era viabilizar o Corinthians campeão. Sem contar que o espirito democrático presente na própria comunidade pontepretana, mesmo que indiretamente, impedia a Macaca de mergulhar com tudo nesta relação duvidosa.

Lauro Moraes é reconhecidamente um presidente histórico na Ponte Preta. Mas seu poder político  na ribalta foi limitado.

Está no espirito pontepretano a aliança com a democracia, confirmado em post colocado em suas redes sociais nesta quarta-feira, dia 31 de março. “Sempre em defesa da vida, dos direitos e da democracia”, é o texto publicado.

Um coronel com espirito democrático, um presidente que mesmo sendo do partido que apoiava a ditadura, não conseguiu utilizar a politica como arma para crescimento da instituição. Ainda bem. A democracia deve prevalecer. Sempre.

(Elias Aredes Junior)