Guarani e a vitória em 1978: vencer o Brasileirão foi mais do que um triunfo no gramado. Foi a confirmação de um contraponto a um regime de exceção

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A recordação do golpe militar detonado em 31 de março de 1964 pode servir de reflexão para diversas abordagens. Sempre na direção da valorização da democracia e da liberdade de expressão, preceitos desaparecidos neste periodo encerrado apenas em janeiro de 1985.

Em uma delas o Guarani está inserido.

Quando foi Campeão Brasileiro em 1978, o seu triunfo representou muito mais do que aquilo que rolava no gramado. Foi a confirmação do espirito oposicionista e lutador de uma cidade, que nos 21 anos de regime ditatorial jamais elegeu um prefeito da Arena, o partido que sustentava os generais do planalto.

Orestes Quercia, Lauro Péricles Gonçalves, Francisco Amaral e Magalhães Teixeira, todos eleitos e ligados ao MDB, que encampava a oposição ao Palácio do Planalto.

Para entender o papel bugrino é preciso resgatar o contexto.

Em 1978, o regime militar começava a conviver com  trincas na estrutura. A saída do general Silvio Frota do Ministério do Exército, em outubro de 1977, e a pressão por instalação da anistia deixava os generais encurralados. O futebol era uma forma de colocar oxigênio no regime.

De um lado, a busca por aumentar o números de equipes na então Taça de Ouro. Uma equipe no Brasileirão era sinal de compromissos amarrados com prefeitos, deputados e políticos locais.

Na Seleção Brasileira, por sua vez, a Copa de 1978 representou o respaldo dessa política. O Almirante Heleno Nunes, presidente da CBD, apostou no capitão do Exército, Claudio Coutinho para montar uma equipe vencedora. A sua comissão técnica teve sua composição formada por militares em sua maioria.

A intitulação de “campeão moral” escondia, no entanto, um descontentamento profundo da imprensa, formadores de opinião pública e torcedores em relação ao que foi demonstrado no gramado.

Eis que aparece no interior paulista uma equipe que rezava na cartilha oposta ao que foi exibido na Argentina. Time ofensivo, destemido, criativo, com revelações no gramado e no banco de reservas. Um frescor no meio de tanto esquema tático carrancudo e sem brilho. E avalizado por uma estrutura de poder. O Guarani era sinal de liberdade. Do gramado para a vida civil.

Quando levantou o troféu de Campeão Brasileiro, o Guarani não venceu apenas o Palmeiras. No fundo, colocou mais um tijolo para comprovar que infelizmente o regime militar tinha profundo equivoco sobre o que é e para serve o futebol no Brasil. E carimbou a vocação de Campinas de ser um local oposicionista ao regime militar. Nas ruas e no gramado.

(Elias Aredes Junior)