Há seis anos o Atlético Paranaense sacudiu as estruturas do futebol brasileiro ao decidir escalar um time Sub-23 para disputar o Campeonato Paranaense. O argumento do então presidente Mário Celso Petraglia era cristalino: a competição ocupava muitas datas no calendário e era preciso preparar-se para o Campeonato Brasileiro. Meses depois, a recompensa: time classificado à Copa Libertadores do ano seguinte. A estratégia foi repetida no ano passado e a conquista do Copa Sul-Americana carimbou o êxito da estratégia.
Drama idêntico será vivido pelos 12 gigantes que estarão envolvidos em alguma competição da Conmebol, seja Libertadores ou Sul-Americana. O regional será um estorvo. Perda de tempo, mesmo com o pagamento de cotas polpudas. Não seria o caso de Ponte Preta e Guarani começarem a encararem o Paulistão de modo mais crítico? Não seria melhor pensar de imediato na disputa da Série B do Campeonato Brasileiro?
Alguém colocará na mesa que a cota de televisão compensa. Verdade. Mas a troco de que? O Guarani inicia o torneio no sufoco, ávido por conseguir quatro vitórias que lhe assegurem a permanência e evitem novo vexame. Na Macaca, a pressão será diária para repetir a campanha de 2017, quando terminou com o vice-campeonato. Vale a pena?
O ideal seria que as equipes estivessem focadas em realizarem uma preparação bem feita, com realização de amistosos, torneios preparatórios e o planejamento da fase inicial da Copa do Brasil. Se a Série B iniciasse em fevereiro ou março, a dupla teria tempo para cumprir o calendário e exigir um rendimento melhor dos jogadores.
Hoje, depois do Paulistão uma semana depois será iniciada a segundona nacional, cujo nível de exigência será maior. Ou sobe à divisão de elite ou nada valerá a pena. Os executivos de futebol estarão afobados, desesperados em buscarem reforços de afogadilho e o treinador, pressionado em todos os poros, terá a obrigação de realizar um trabalho impecável. Como exigir excelência em meio ao caos?
O saudosista de plantão dirá que é impossível acabar com os campeonatos estaduais porque muitos dependem dessas competições para sobreviver. É 25% de verdade. Dependem até meados de abril, quando terminam as fases classificatórias. Depois, o que resta para maioria dos clubes são copas estaduais que não tem um décimo da projeção da competição iniciada em janeiro. O que é preciso fazer é rediscutir a função dos estaduais, como redirecioná-lo como classificatório para uma quarta divisão nacional que pode ser disputada o ano inteiro.
Hoje, o baixo clero do futebol vive na miséria, a burguesia (em que Ponte Preta e Guarani lutam para ficar) vive de migalhas e a elite tem dinheiro, mas não tem tempo para usufruir. Uma hora ou outra Ponte Preta e Guarani serão chamados ao debate e a encarar a realidade: campeonato estadual pode valer muito aos donos do poder nas federações, mas é remendo para quem busca futebol de alto rendimento, seja a equipe de grande, pequeno e médio porte. Que os times campineiros caiam na real.
(análise feita por Elias Aredes Junior)