A informação divulgada a respeito de um papo entre o ex-vice-presidente de futebol, Marco Antonio Eberlim e o atual presidente José Armando Abdalla Junior serviu para explodir as redes sociais. Torcedores pontepretanos apaixonados em defenderem a sua tese. Alguns querem e sonham com o retorno do centralizador dirigente; outros não querem nem ouvir falar o seu nome. Os argumentos surgem de lado a lado em uma polarização só vista em outros dois temas: o legado de Márcio Della Volpe e a continuidade ou não da dinastia de Sérgio Carnielli.
Tal fenômeno não pode ser analisado de modo isolado. É preciso contextualizar e entender porque Eberlim ainda nutre um séquito de fãs e admiradores, apesar de nunca ter concorrido ao prêmio de mister simpatia.
A Ponte Preta é um clube cuja tradição pesa muito. Os conselheiros natos tem peso. Queiramos ou não, a trajetória de Eberlim assemelhava-se e muito aos grandes dirigentes do passado. Começou a apaixonar-se por futebol ainda na adolescência e na juventude transformou o humilde Botafogo em um osso duro de roer no futebol amador de Campinas. Capaz de faturar títulos e incomodar potências como a Tecnol de Vanderlei Pereira e Sérgio Carnielli.
Quando chegou à Ponte Preta, em meados da década de 1990, foi adotado indiretamente por Pedro Antonio Chaib, que de certa forma lhe ensinou os macetes para saber driblar as armadilhas dos bastidores da bola. O conhecimento futebolístico ele já tinha e discutia em alto nível com treinadores que iam de Pepe a Abel Braga.
Em contrapartida, construiu uma relação de ódio e amor nas arquibancadas. Sua linguagem direta, sem rodeios, seus chamamentos a torcida da Ponte Preta galvanizou corações inebriados. Também soube montar equipes competitivas e que tinham atletas como Washington, Mineiro, Piá, Macedo, Ronaldão, Grizzo, entre outros. Em muitos torcedores acima de 30 anos criou-se uma memória afetiva em relativa aos anos de Eberlim no Majestoso.
Um sentimento capaz de apagar sua obsessão por times retrancados, a tara por contratar volantes e mais volantes e sua gestão centralizadora que impedia o surgimento de outras vozes. Talvez se fosse ameno e adepto ao diálogo e a prática da boa política talvez estivesse até hoje na Ponte Preta ou qualquer clube do Brasil.
Denúncias existem contra ele? Sim, existem e até serviram de combustível para sua exclusão do clube. Em diversas entrevistas ele mesmo alegou que não lhe foi assegurado pleno direito de defesa. Ou seja, é uma história que não terminou.
Por que tal memória afetiva foi criada em muitos pontepretanos? Simples: pela incompetência dos dirigentes que lhe sucederam. Nem digo pelos resultados e sim pela postura perante a torcida e a instituição. Eberlim, pela sua própria de vida, de um jeito empírico ou torto, foi capaz de conversar e se entender com o engenheiro da vitalícia ou com o pedreiro da arquibancada.
Desde 2006, a Ponte Preta foi dominada pela “República do Paletó”, uma turma cheia de bons modos, boas posses, poderio financeiro, mas incapaz de detectar como montar uma equipe com as características históricas da Ponte Preta e com perfil adequado. Pense: os lampejos da Macaca de 2006 a 2018 foram quando os técnicos captaram este sentimento e fizeram a ligação direta com o povão. Sem intermediários.
Não adianta Vanderlei Pereira, Giovanni Di Marzio, Márcio Della Volpe, Sérgio Carnielli e outros dirigentes que passaram na Ponte Preta torcerem o nariz quando o nome de Eberlim é pronunciado e elogiado por torcedores pontepretanos. Deveriam admitir sim que nos últimos 12 anos eles resolveram trocar a bermuda e camisa regata por um Black tié para comparecer a um pagode. Óbvio que não seriam entendidos. Enquanto existir esta desconexão, muitos torcedores ainda vão relembrar os tempos de Eberlim como um período de sonho e a atualidade como um autêntico pesadelo.
(análise feita por Elias Aredes Junior)