Sai o pronome Eu e entra o Nós. O segredo da classificação antecipada do Guarani

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O Guarani está classificado. Já pensa nas duas decisões em outubro e que podem lhe assegurar o acesso á Série B. Primeira etapa do trabalho concluída. A liderança e os 34 pontos refletem o êxito de um personagem que atuou nos bastidores. Não ligou para turbulências ou opiniões equivocadas. Não se abalou com as derrotas para Mogi Mirim e Boa Esporte, ambos os duelos disputados longe de Campinas e que serviram de estopim para protestos. Tudo isso foi suplantado por um craque: o pronome Nós.

É isso que você leu. Nos últimos anos, o Guarani fracassou porque sua aposta foi feita em cima de iniciativas individuais. Pior: teorias infundadas tomaram conta dos bastidores e das arquibancadas. Resultado: tudo era colocado por água abaixo.

Na participação inicial na Série C, em 2013, toda a esperança bugrina foi depositada sobre o técnico Tarcísio Pugliese. Seu esquema defensivo, a obsessão por impedir que o adversário atuasse no seu campo defensivo e os contra-ataques até dentro do Brinco de Ouro fizeram com o torcedor acreditasse na obtenção do acesso de forma natural.

O primeiro turno até deu o sinal de que isso era possível, ao terminar na liderança e com o goleiro Juliano feliz por exibir 810 minutos sem sofrer gols. Veio o segundo turno e o Guarani entendeu na base da dor que não adiantava contar com forte esquema defensivo sem um centroavante capaz de marcar gols. Afinal, Nena ficou a fase classificatória inteira sem balançar as redes. Impossível dar certo uma receita dessa.

No ano seguinte, a aposta individual foi renovada em cima de Evaristo Piza e ignorando a necessidade de estrutura e de respaldo não só dos salários, como também de um campo para treinar. Não foram poucas as vezes em que o próprio Piza gastava tempo não em preparar o seu time e sim buscar um local para treinador. Na base do desespero, Vagner Benazzi e Marcelo Veiga tentaram um último suspiro. Não deu. No fundo, no fundo, o torcedor bugrino sabia que faltava algo para alcançar o paraíso.

Os erros praticamente foram repetidos em 2015, seja por apostar em técnicos e sem lhe conceder  tempo para trabalhar (Ademir Fonseca, Paulo Roberto Santos e Pintado) como também em acreditar única e exclusivamente no talento de Fumagalli. Sim, o Guarani só não disputou as quartas de final porque foi suplantado nos critérios de desempate pelo Brasil de Pelotas. Só que os vencedores exibem “algo a mais”. Isso faltou ao Alviverde. 

Neste ano, o presidente Horley Senna aprendeu a lição. Dentro de suas limitações financeiras fez o básico. Contratou um gerente de futebol que conhece a divisão (Rodrigo Pastana), um treinador com sede de vencer (Marcelo Chamusca), uma comissão técnica focada na ciência do Esporte e o Brinco de Ouro transformou-se em um lugar decente para jogar de maneira oficial e também para treinar.

No gramado, não é um time desconexo ou que dependa de Fumagalli. Cada um tem sua função. Leandro Amaro e Ferreira são zagueiros atentos e entrosados; no meio-campo, Auremir dá estabilidade no trabalho de marcação enquanto que Lenon e Gilton dão balanço e equilibrio nas laterais, apesar de deficiências ofensivas no lado esquerdo. Agora recuperado, Zé Antônio aos poucos melhora a qualidade do passe do meio-campo ao lado de Marcinho, que com sua presença alivia as funções de Fumagalli. Na frente, Pipico, incompreendido de modo jocoso muito mais pelo apelido do que por seu futebol, é pau para toda obra. Não desiste de uma jogada sequer.

Entenderam? Não existe uma estrela ou peça imprescidível. É uma engrenagem, com falhas, defeitos, virtudes e calcada na união.

O Guarani pode fazer tudo isso e morrer na praia? Pode. Afinal, a formula do campeonato é traçoeira. Mas os 16 confrontos disputados já comprovaram: o Guarani só avanço quando o Eu é deixado de lado e o Nós vira o camisa 10.

(análise feita por Elias Aredes Junior – foto da Assessoria de Imprensa do Guarani)