Técnicos, jogadores, dirigentes, imprensa e torcedores no dérbi campineiro. Somos a personificação da derrota e da mediocridade!

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Estamos a seis dias do dérbi campineiro e não há mobilização. Tudo parado, modorrento. Não entendia o motivo. A luz apareceu ao ler neste domingo o texto do repórter Ricardo Kotscho, atualmente na Folha de S. Paulo. Ele argumenta que o Brasil virou um carro velho cubano, sem reposição de peças. O material humano piorou a olhos vistos. (leia aqui)

O futebol campineiro tem diagnóstico idêntico. Somos medíocres, limitados, péssimos, tapados, sem noção e cultura. E isso é estendido a todos: jogadores, dirigentes, técnicos, jornalistas e torcedores. Somos uma derrota ambulante. Carregamos o verniz da arrogância para esconder a nossa limitação e fracasso.

Quem substituiu Pedro Antonio Chaib na Ponte Preta? Astuto, esperto, inteligente, foi o diretor de futebol que conduziu a Macaca ao período mais glorioso de sua história. Marco Antonio Eberlim foi quem mais se aproximou.  Quem lhe substituiu de modo pleno? Ninguém. Absolutamente ninguém. E o Guarani com Ricardo Chuffi, Antonio Tavares, Luiz Roberto Zini, Leonel Martins de Oliveira? Se você acha que a geração atual com Horley Senna e Palmeron Mendes está a altura daqueles que citei eu cravo: você veio de Marte ou torce para o Guarani desde a semana passada.

De jogadores e técnicos nem vou falar. Os resultados falam por si.

E a imprensa? Em comparação aos quadros do passado, somos medíocres, limitados e fora de conexão. Dionisio Pivatto, José Arnaldo, Walter Paradella, Sérgio Salvucci, Prado Junior, Zaiman de Brito Franco, Alberto Cesar, Pereira Neto, Brasil de Oliveira, Jorge Ferreira dos Santos, Ariovaldo Izac, João Carlos de Freitas, Lombardi Netto. Um desfile de pessoas que não eram apenas cronistas esportivos.

Eram e são homens do mundo, cultos, preparados, com capacidade para falar de qualquer assunto. Não são apenas ventríloquos com capacidade para falar apenas de treino-escalação-jogo ou frases feitas como determinado jogador está “fininho” ou que companheiro de profissão é dedicado. Apesar do nosso esforço e dedicação, não sustentamos o legado destas lendas que construíram a fama e a credibilidade do jornalismo esportivo campineiro nas décadas de 1970 e 1980.

Eu e muitos espalhados por aí somos a personificação da derrota. Da tentativa frustrada. Se no mês passado citei Julio Nascimento, Vinicius Bueno, Paulo do Valle e João Lucas Dionísio em artigo no dia do repórter é porque são os únicos que vislumbro da nova geração com tempo de estrada para ir além do futebol. Música? Literatura? Cinema? Artes? Política? Economia? Esses quatro são capazes de falar sobre isso e muito mais. É  a centelha de esperança de que um dia esse jogo possa ser virado. Eu fracassei. Sou a personificação da derrota, como a atual geração  de cronistas esportivos também. Não seguramos o legado. Fato.

E o torcedor? Quem tem mais de 40 anos relembre como era Campinas nas décadas de 1970 e 1980. Ou até 1990. Existia a rivalidade, a tiração de sarro. E lamentavelmente até atos de violência. Os torcedores viviam o dérbi. Pensavam o jogo. Interligavam com a cidade e suas histórias. Quantas discussões saudáveis no Largo do Rosário ou nas ruas de bairro. Quando era criança ou adolescente, lembro de bugrinos e pontepretanos de 10 a 15 anos reunidos na esquina da Rua Clara Camarão com Itagiba, no Jardim Amazonas, para falar sobre os clássicos. Piadas, bom humor…

E hoje: é xingamento para lá, promessa de revide daqui e dali e a utilização das redes sociais para ameaçar e desqualificar jogadores, treinadores e imprensa. Como posso dizer que somos melhores em relação a geração anterior? Impossível.

Confesso que não tenho esperança. Seja na arquibancada, na cabine de imprensa ou no estúdio somos a personificação da derrota. Do rebaixamento de qualidade e de empatia que transformou um clássico do interior de rivalidade centenária em um cemitério de almas medíocres, limitadas e dotadas de ódio. Violência pela violência. Não gosto de misturar minha função profissional de analista com crenças religiosas, mas é inevitável dizer: que Deus tenha misericórdia de nós!

(análise feita por Elias Aredes Junior)