Escrevo em plena madrugada. Após um dia de trabalho. No fundo, no fundo, ainda fico inconformado com algumas reações de torcedores de futebol. Deveria receber com naturalidade. Não consigo. Desta vez, o alvo é a torcida do Guarani. Que ignora solenemente o jogo desta terça-feira, contra o Bragantino.
Está contrariada com o técnico Thiago Carpini. Não queria força máxima. Acredita que a melhor medida seria poupar jogadores. O argumento do comandante deveria encerrar o assunto. “O próximo jogo é contra o Bragantino e só depois vamos pensar no dérbi. Temos alguns jogadores com algumas pendências físicas, mas vamos escalar força máxima dentro daquilo que teremos à disposição. Não temos o luxo de poupar nenhum jogador porque ainda não atingimos nosso objetivo”, afirmou o treinador. Certeiro. Não adianta.
O torcedor bugrino considera que a prioridade é vencer o dérbi. Obrigação pura. Quem cai de paraquedas poderá pensar que a Série B termina sábado.
Nada disso. O Guarani ainda precisa somar pontos. Não pode vacilar. O torcedor não quer ouvir. Diz que não aguenta a humilhação de ser caçoado pelo rival há sete anos. De um lado compreendo. Em contrapartida tenho perplexidade.
Este torcedor não consegue enxergar alguns fatos. Humilhação não é deixar de vencer e jogar contra o rival. Situação desesperadora é encontrar-se há nove anos longe da divisão de elite. E sem jogar regularmente contra Cruzeiro, Atlético Mineiro, Grêmio, Internacional, os gigantes cariocas e paulistas no Brasileirão. Isso sim é triste, deprimente. Esquecer o passado de participações na Libertadores. Esses fatos demonstram não só humilhação e sim queda de patamar.
Contentar-se apenas e tão somente com triunfos em dérbis é a consequência direta de anos e anos de incompetência, falta de gestão, planejamento e sucateamento de um clube que era referência. Uma agremiação que deixou sua torcida trucidada não só sentimentalmente como também na autoestima.
Ninguém precisa me dizer que o dérbi é importante. É vital. Tanto que batiza o nome deste site. Mas antigamente vencer a Ponte Preta era ponto de partida e jamais reta de chegada.
O dia que o torcedor bugrino redescobrir a real dimensão da sua história e da sua agremiação vai continuar a dar valor e prioridade ao dérbi. Como sempre. Mas vai saber que existe um mundo imenso para ser conquistado no planeta bola. E que hoje parece distante.
(Elias Aredes Junior)