Torcedores de Ponte Preta e Guarani entram na luta contra o fascismo

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Em seu livro “Como Conversar com um Fascista”, a filósofa Marcia Tibura escreve: “fechado em si mesmo, o fascista não pode perceber o “comum” que há entre ele e o outro, entre “eu e tu””.

No meio deste atual turbilhão político é um desafio enxergar que o futebol – historicamente tão fascista (“sim, nas brigas e mortes entre torcedores; sim na avaliação de que os fins justificam os meios não importando como, mas somente o título”, entre outros exemplos) –  inverteu seu lugar e , aos poucos, assume a função de  levantar a bandeira que diz  “respeite a diferença”.

Como assim? O que o futebol pode fazer para desanuviar o ambiente?

O Só Derbi conversou com os administradores das páginas Guarani Antifascistas e Ponte Preta Antifascista.  Duas comunidades – que juntas somam quase 700 integrantes – criadas para combater essa onda de autoritarismo e “verdade” como propriedade (ou seria privilégio) de alguns.

No Brasil que se divide entre “coxinhas” e “petistas”, no Brasil que não percebe o comum entre o “eu e o tu”, vemos o futebol questionar o ódio.  Porque odiar o outro time? Para que viver como se só eu soubesse o que é melhor para o meu País? Porque não usar meu tempo no Estádio para, além de torcer, pedir punições para o “ladrão de merendas (referência aos protestos da organizada do Corinthians que cobra punição aos políticos envolvidos com superfaturamento  nas merendas de São Paulo)?

Porque eu, sendo Bugrino, não posso ter amigos pontepretanos?  Porque  um torcedor da Macaca não pode unir-se a outro do Guarani?

Para os administradores das páginas dos times de Campinas que lutam contra o fascismo (movimento político italiano que tinha o político Mussolini como grande líder) a luta é para despertar uma conscientização esportiva (e política).

Não à toa, as duas páginas conciliam campanhas. Manifestam juntas opiniões. Não à toa, o discurso contra a briga de torcida. Os times de Campinas não estão sós nesta missão. Outros clubes também ganharam, de torcedores, páginas administrados por quem é contra o fascismo.  “O fato de das torcidas antifascistas serem unidas é porque só assim poderemos acabar com o fascismo !! A briga no futebol é no campo, não nas arquibancadas.

Nas ruas o antifascismo começa ai: não brigando por causa de time de futebol !”, diz o Guarani Antifascista.

“Somos um grupo de pontepretanos cansados desse rumo que o clube e o futebol num geral vêm tomando. Fazemos nossos posts e comentários na página, discutimos nos comentários ou pelas mensagens, nos encontramos com quem quiser nos conhecer e vamos aos jogos. Queremos um crescimento orgânico do grupo, com pessoas que simpatizem com as propostas e adicionem ideias.” resume o responsável pela página Ponte Preta Antifascista, que preferiu não se identificar.

 

 Com a palavra, a Ponte Preta Antifacista e uma abordagem sobre sua filosofia!

           A ORIGEM

 A Ponte Preta Antifascista surgiu depois de perceber o preconceito e intolerância nas arquibancadas brasileiras. Então, veio a ideia de criar a página para disseminar informação sobre o mundo da política nas torcidas de futebol e levar os princípios do antifascismo para a arquibancada, que sempre foi marcada por machismo, homofobia, racismo e todo tipo de preconceito que está incrustado na nossa sociedade.”

COMPORTAMENTO NO ESTÁDIO

 “No estádio também preferimos não cantar partes homofóbicas ou machistas das músicas das organizadas e, às vezes, acabamos discutindo com pessoas próximas que têm posturas ofensivas. Mas acredito que o ideal seja não gritar junto, não rir e, se possível, dar aquela olhada torta para quem está em volta.”

VISÃO SOBRE O  FUTEBOL E A VIDA

Acreditamos que torcida é o reflexo concentrado da sociedade, e o futebol aflora vários sentimentos – bons e ruins –, então não há forma de esperar outra coisa durante os jogos. Já ouvimos e vimos de tudo em jogos e fora deles, a pessoa que vai numa passeata contra a Dilma e grita que ela é uma “vadia” é a mesma que vai para o estádio. A postura dela não será diferente, ela não dirá que é um absurdo xingar alguém de “viado”. E há o senso comum de que “no futebol pode”.

A RELAÇÃO COM AS OUTRAS TORCIDAS

“Temos um excelente relacionamento com as outras Torcidas Antifascistas do Brasil e do Mundo. Dentre elas podemos citar a do Palmeiras, Santos, Flamengo, Fluminense, Santo André, mas temos também um excelente relacionamento com os camaradas da Guarani Antifascistas, que começou o seu movimento se espelhando no nosso grupo. Em Campinas já assinamos diversas notas em conjunto, demonstrando que somos rivais mais nunca inimigos”.

POSIÇÃO SOBRE O ATUAL MOMENTO POLÍTICO

A Ponte Preta Antifascista é totalmente contra o golpe e a favor da democracia, não podemos manchar e destruir a Constituição Brasileira. Queremos sim que todos os envolvidos em esquemas de corrupção sejam punidos e paguem pelo que seus atos. Não aceitamos acusações sem provas e estaremos lutando bravamente para que nosso Brasil seja totalmente livre de todo preconceito, corrupção e fascismo.”

 

Como não poderia deixar de acontecer, o Só Derbi abre espaço para a página GUARANI Antifascistas! Confira as ideias do grupo:

CRIAÇÃO DA PÁGINA

“A página foi criada após intolerâncias sofridas no estádio e nas ruas da cidade; preconceitos homofóbicos,racistas e o forte machismo que se tem no futebol! Nossa torcida é formada por antifascistas que já atuam nas ruas de campinas. Somos punks ,hooligans antifascistas,skinheads antifascistas,negros, feministas e glbttb.”

MOTIVOS DE LUTA

 Além da luta contra o fascismo também lutamos contra o futebol moderno e elitista,queremos um futebol para todos terem acesso, queremos o fim dos preços altos nos ingressos e também uma porcentagem grátis para quem não tem condições para pagar!”

TRADUZINDO O FASCISMO AOS LEIGOS

“Para nós, hoje o fascismo baseia em grupos extrema direita que pregam ódio ou palavras de ódio contra o povo pobre. A policia militar é fascista,  herdou o fascismo da ditadura militar; fascismo é defender o estado a todo custo mesmo sendo contrário a democracia; fascismo é ser contra alguém por ser diferente; fascismo é o que estão fazendo com o índios no Brasil…”

UNIÃO É A BASE DE TUDO

 “O fato das torcidas antifascista serem unidas é que só assim poderemos acabar com o fascismo !! A briga no futebol é no campo não nas arquibancadas e nas ruas o antifascismo começa ai :não brigando por causa de time de futebol !!”

 

(Texto e reportagem: Adriana Giachini- Foto que ilustra a matéria na capa é referente as Copas de 1934 e 1938, quando o Fascismo imperava na Europa)