Uma foto, Maradona e recordações de uma imprensa campineira que ficou na saudade

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Os mais jovens podem ficar incrédulos mas já tivemos um período em que o jornalismo não era atropelado pela velocidade digital. A internet era um delírio distante e os jornais, televisões e emissoras de rádio tinham poder para influenciar os rumos da opinião pública. Foi nesse clima que Diego Armando Maradona esteve em Campinas para se hospedar na casa do amigo Careca. Espairecer dias após a perda do Mundial de 1990 para a Alemanha.

Jornalistas fizeram vigília dia e noite para conseguir uma entrevista com o craque. E aconteceu. Foi  em julho de 1990  e lógico foi o tema principal dos jornais Diário do Povo e Correio Popular no dia seguinte.

Entretanto, a memória efusiva que tenho deste episódio vem do rádio. Em meados das décadas de 1980 e 1990 não há como fugir da constatação: Brasil de Oliveira era um dos comentaristas mais influentes do rádio de Campinas. Seus bordões, a memória prodigiosa e a capacidade de análise do jogo da bola faziam dele um personagem único. Que ninguém se iluda: muitos ouvintes na atualidade na faixa dos 40 anos em diante ainda nutrem admiração pelo veiculo porque foram formados pelo “velho brasa”.

Residente no Jardim Amazonas e estudante do terceiro colegial na Escola Cyro de Barros de Resende, em Valinhos,  aguardava com expectativa a  chegada das 18h para sintonizar a Rádio Central, que tinha na dupla formada por Zé Arnaldo e Brasil de Oliveira e o seu chamariz de audiência.

Geralmente eu revezava na escuta com a Educadora (hoje Bandeirantes). Naquele dia Brasa cativou aquele adolescente de 17 anos. Ele, correspondente da Agência Estado,  participou da entrevista coletiva com Maradona e a descreveu como algo épico. Adendo: hoje, profissional de imprensa, sei que geralmente as entrevistas são enfadonhas ao extremo. Regras do jogo.

Brasil de Oliveira jogou tudo para o alto em termos de objetividade e reproduziu respostas do “Pibe de Oro”, suas impressões, a amizade com Careca e quase foi ao delírio ao reproduzir a resposta do então camisa 10 do Napoli a uma pergunta de sua autoria. Seu questionamento foi a de querer saber qual jogador lhe inspirava. Talvez tenha sido uma das primeiras oportunidades que Maradona demonstrou sua admiração por Roberto Rivelino. O  noticiário de Ponte Preta e Guarani ficou em segundo plano. Merecidamente. Bons tempos em que Campinas parava por causa do bom futebol. Seja qual fosse a origem.

(Elias Aredes Junior)