Zagueiros, Oliveira, Louzer: os problemas são mais profundos que jogadores e técnicos que decepcionam

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Nunca o técnico Umberto Louzer foi cercado de tanta desconfiança. A derrota para o Fortaleza e a armadilha em que caiu pelo técnico Rogério Ceni serviram para detonar um espiral de inconformismo na torcida do Guarani.

Quem já era crítico quer vê-lo longe do Brinco de Ouro; quem é a favor do seu trabalho sofreu abalos consideráveis. Junte essa penumbra de decepção com as atuações pífias do goleiro Oliveira e dos zagueiros Philipe Maia e Everton e a cadeia de incompetência está formada.

Convenhamos: a torcida tem boa parte de razão. É a Série B de nível técnico mais fraco dos últimos tempos. Em condições normais, o elenco do Fortaleza seria para zona intermediária de tabela. É líder com sobras. O Coritiba sofre, o Goiás ainda não entrou no G-4…Ou seja, nem as potências conseguem apresentar um futebol minimamente qualificado. Fica a sensação de que o Guarani perde uma chance de ouro. Não tiro a razão de quem pensa assim.

Sem tirar os motivos de revolta da mesa de discussões, quero colocar outros elementos para debate. Vou tentar expor algo que parece simples à primeira vista. As falhas de Louzer, dos zagueiros e do goleiro não se constituem em causa e sim consequência daquilo que é vivido no dia a dia do Brinco. A bola não entra por acaso.

Analise o jogo. Reveja os lances. Perceba que o Fortaleza não fez boa partida. Longe disso. Vou além: talvez mesmo sem as falhas conseguisse a virada.

Como assim? Lembre-se que durante quase todo o segundo tempo o time cearense ganhou boa parte das divididas e chegava com vitalidade. Não ganhou na base da técnica e sim na base da força física.

Assistia ao jogo e lembrava do início do ano quando Rogério Ceni assumiu o Fortaleza e exigiu melhorias no Centro de Treinamento, Sala de Musculação, fisioterapia e em todos os departamentos.

Por que? nas suas andanças pela Europa, Ceni percebeu que infelizmente a técnica e a habilidade hoje andam juntas com o preparo físico. Este último quesito só se consegue com uma infra-estrutura minimamente aceitável.

Pergunta incômoda: há quanto tempo falamos que o Guarani peca neste quesito? Quando a melhoria das condições de trabalho dos jogadores e da comissão técnica virou prioridade? Esperam eternamente pela boa vontade do Roberto Graziano? Está aí. Hoje o Guarani é uma equipe com brilhos individuais, mas que dificilmente consegue se impor fisicamente.

Muitas vezes a força física e a vitalidade conseguem esconder limitações grotescas. No Guarani tudo está exposto. E no final tudo vira uma grande roleta russa. Asseguro: se a a estrutura do Guarani estivesse no nível de clubes como Atlético-PR, Chapecoense ou de Ceará, a qualidade do time seria outra em termos físicos. E não dá para culpar 100% a preparação física. Em termos de estrutura, os preparadores bugrinos tem em mãos um carro de 1.000 cilindradas para competir com carros esportivos. Difícil.

No caso de Umberto Louzer, tudo pode ser resumido em uma expressão: ausência de respaldo. Ninguém sabe tudo. Ninguém é perfeito.

Já coloquei aqui o mérito do treinador em conseguir viabilizar competitividade na equipe apesar das saídas de várias jogadores.

Não podemos ignorar a melhoria significativa de Rafael Longuine, do lateral-direito Kevin (quem diria!) e a produção constante e positiva do volante Ricardinho.

Existem erros de escalação? Vários. Não há duvida. Especialmente a zaga é um roteiro de arrancar lágrimas de sangue.

Lanço uma reflexão: quem na atual estrutura do clube pode ajudar um técnico novato em Série B a sair das armadilhas? Criticamos suas escolhas (e com razão) mas não podemos esquecer que quem montou o time e o elenco não foi ele e sim Luciano Dias. Fica o questionamento: será que Luciano Dias troca ideias com ele para buscar alternativas táticas e de jogo? Vou além: qual dirigente estatutário blinda Louzer na hora do sufoco. Eu respondo: ninguém. É ele, seus companheiros de comissão técnica, os jogadores e Deus. E assim será com qualquer outro treinador se a linha de trabalho for mantida.

Vou além: não seria o caso de pensar dar mais liberdade operacional para Fumagalli auxiliar na tomada de decisões da Comissão Técnica?

Digo tudo isso porque Umberto Louzer já demonstrou potencial. Não foi campeão da Série A2 por acidente. Mas ele não é super herói. Na atual estrutura do Guarani um técnico com o perfil dele é facilmente sugado e destruído.

Alguém esqueceu a condução da atual diretoria na Série B do ano passado? Vadão, Marcelo Cabo, Lisca… Tiros desesperados para todo o lado e a salvação na bacia das almas. Se dependesse da gestão dos gabinetes, o Guarani estaria perdido.

O torcedor pode e deve protestar pelo péssimo rendimento dos jogadores e do próprio treinador no último jogo. Só não pode esquecer que trocar jogadores e até o treinador não vai adiantar nada enquanto a ausência de sabedoria e de gestão reinar nos corredores do Brinco de Ouro. Não esqueça: a bola não entra por acaso.

(análise feita por Elias Aredes Junior)