Uma reflexão sobre Ponte Preta, Léo Gamalho, Guarani e o jornalismo esportivo em Campinas

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A principal noticia da Ponte Preta hoje não é a contratação de Léo Gamalho e sim a mudança de panorama em menos de 30 dias. No dia 12 de julho a própria diretoria executiva afirmava que eram mentirosas as afirmações de que o centroavante vestiria a camisa alvinegra. Idêntico filme aconteceu na contratação de Rodrigo. Negativas, negativas e eis que de repente o atleta retornou ao Majestoso.

Em várias ocasiões, o Guarani, seja qual fosse a diretoria, também utilizava tal estratégia. Não é de hoje. Leonel, Beto Zini, Lourencetti, Marcelo Mingone, Álvaro Negrão e Horley Senna tiveram dificuldades para entender a função e o papel da imprensa.

Chegou o instante exato para discutirmos um tema fundamental: que conceito de liberdade de imprensa tem o futebol campineiro? Qual a função do jornalismo esportivo? É correto esconder notícias deliberadamente para provocar uma corrosão de credibilidade do profissional de imprensa ou repórter?

Não é uma análise fácil. Alguns dados são difíceis de digerir até para o autor do texto. Passo inicial: quem conhece a história e o desenvolvimento do jornalismo esportivo sabe que o ofício infelizmente sempre foi considerado de segunda classe dentro da profissão. Repórteres políticos, econômicos e culturais gozavam de um prestígio mil vezes superior ao que acontecia com aqueles que atuavam no jornalismo esportivo e policial.

Qual o motivo? Simples: no futebol, a explicação era relação próxima e por vezes promíscua entre as fontes. Quando me refiro a tal cenário eu digo ao século passado, às décadas de 1960, 1970 e 1980. Neste período, os dirigentes, conhecedores dos salários deficientes seja no jornalismo impresso, rádio ou televisão, ofereciam uma série de favores para atrair aqueles que deveriam fiscalizar o poder estabelecido. Traduzindo: pagamento de viagens para acompanhar o time, bloqueio de notícias, facilidade para que os jornalistas tivessem livre acesso aos jogadores, entre outros procedimentos.

Cinco fatos provocaram uma mudança de parâmetros no jornalismo esportivo no Brasil. O primeiro foi o surgimento do Jornal da Tarde, do Grupo Estado, em 1966. Com capas chamativas e com cobertura de fôlego na editoria de esportes, foi o primeiro veículo de comunicação a exigir exclusividade de seus repórteres esportivos. Não permitia o duplo emprego e concedia liberdade para reportagens investigativas e de denúncia.

O passo seguinte foi em 1977, com a contratação de Osmar Santos pela Rádio Globo. Até aquele momento, as programações esportivas eram vitais nas rádios mas seus profissionais, apesar da popularidade e parecia que faltava algo, um plus. Osmar Santos foi o primeiro cronista esportivo eleito como carro-chefe de lançamento de uma rádio de peso e com uma grande corporação por trás. Ganhou credibilidade como brinde. O narrador sentiu tal cenário e tomou duas providências.

Na captação de anúncios, deixou a intermediação dos clubes e federações e estabeleceu uma relação amistosa e direta com os proprietários de empresas. Em contrapartida, na formação da equipe de produção, promoveu uma renovação de costumes ao pedir a contratação de gente como Odir Cunha e Edson Scatamacchia, oriundos do jornalismo impresso. Dizia aos quatro ventos que deseja trabalhar com gente sem vícios. Com esse pacote, o narrador entrou para a história do rádio e do jornalismo.

Em 1981, a Revista Placar estabeleceu um novo patamar na cobertura esportiva com a denúncia do escândalo da loteria esportiva. A divulgação de que jornalistas, jogadores, técnicos e dirigentes envolvidos na combinação de resultados e que interferiam na loteca caiu como uma bomba no mundo da bola e demonstrou por A mais B que o futebol estava longe de ser um oásis de polianas.

Uma opção radicalizada pela “Folha de S. Paulo”, inovadora ao lançar um caderno de esportes com foco nos bastidores e nos lances políticos. E com matérias que comprovam que os bastidores são fundamentais para compreender aquilo que acontece no gramado. Não há como cobrir e acompanhar futebol sem ouvir empresários, consultores, investidores e até a Justiça Trabalhista, Cível e Comum.

Considero que os profissionais que atuam em Campinas têm consciência do quadro e da necessidade de adaptação aos novos tempos. Estamos no meio do caminho. O que espanta é a falta de sintonia dos gabinetes do Brinco de Ouro e do Moisés Lucarelli.

Assim que sai uma noticia desagradável aos donos do poder, seja qual for o clube, sempre aparece um desmentido, uma tentativa de desqualificação do repórter ou jornalista que divulga a informação. Na pior das hipóteses, convites para conversas a portas fechadas com jornalistas, sem possibilidade de gravação ou divulgação da conversa. Uma estratégia, no mínimo, equivocada.

Ponte Preta e Guarani, cada com sua realidade, precisam aprimorar a gestão, melhorar as condições de trabalho e galgar resultados melhores para agradar ao seu público. E um passo vital é entender que jornalismo bom é aquele que trabalha com criticidade, independência e espírito democrático. Porque dirigente de futebol pensar que vive sem a imprensa livre é como imaginar um marinheiro trabalhar sem a existência do mar.

(análise feita por Elias Aredes Junior)