Aviso de cara: o artigo não tem tom de crítica. É uma reflexão sobre o comportamento do técnico Gilson Kleina nesta segunda passagem na Ponte Ponte e uma relação até com o mundo corporativo.
Para ser claro no meu pensamento eu vou recorrer ao pensamento do meu querido tio Francisco Aredes, que em determinado dia, ao falar sobre sua trajetória de vida, me disse uma frase enigmática: “Sobrinho, nesta vida entre ser bom empregado e bom profissional eu vou preferir a segunda opção porque sempre terá espaço em qualquer lugar. A primeira, uma hora ou outra lhe trará prejuízo porque você vai passar a impressão de que só é útil naquele lugar”.
Faço uma comparação entre as duas passagens de Kleina e chego a conclusão de que a impressão ele viveu os dois perfis.
Em 2011 e 2012, o treinador pontepretano chegou desconhecido. Teve jogadores quase anônimos à disposição e formulou um sistema tático eficiente, equilibrado, destemido e cheio de variáveis. Insistiu, reivindicou e teve melhoria com as chegadas primeiramente de Renato Cajá e depois de Roger e Caio.
Garantiu o acesso, foi semifinalista de Paulistão e vinha em bom ritmo no Brasileirão quando o Palmeiras lhe chamou. Porque foi convocado pelo presidente Arnaldo Tirone para tirar o Alviverde do rebaixamento? Porque fez um trabalho impecável com o pouco que tinha a disposição. Um profissional de alto gabaritado.
Foi esse profissionalismo que fez Gilson Kleina retornar pela porta da frente em 2017 na Ponte Preta. Uma capacidade responsável por formular um setor ofensivo insinuante com Clayson, William Pottker e Lucca, predicado inexistente com Felipe Moreira. Gols, vitórias inesquecíveis e a chegada na final do Campeonato Paulista. Perdeu do Corinthians no primeiro jogo? Sim. Errou na escalação da defesa com a colocação de Fábio Ferreira? Com certeza. Só que este Gilson Kleina formulou a estratégia que amassou Santos e Palmeiras no Majestoso. Ou seja, ali existia um profissional louco para projetar-se no mercado.
Eis que chega o Campeonato Brasileiro e Gilson Kleina toma atitude equivocada, a de ser somente um bom empregado. Quais os sinais disso? Suas entrevistas coletivas defensivas, cheia de explicações e sem ao menos insinuar o básico: a diretoria executiva e o departamento de futebol não lhe deram material humano adequado. As saídas de Pottker e Clayson não foram repostas com idêntica qualidade.
Suporta em silencio a demora para Renato Cajá entrar em ritmo de jogo . Defende os volantes Jadson e Naldo e passa por cima de suas deficiências técnicas. Desconversa sobre a não utilização de Wendel, dos jogadores estrangeiros contratados. Apanha dia e noite, noite e dia. Criticado por todos os lados. Sim, ele produziu motivos para esse estado de coisas. Só que sua postura e comportamento auxiliam na preservação da diretoria executiva dos “tiros” virtuais.
Nas derrotas da Ponte Preta, até naquelas em que Gilson Kleina teve uma atuação ruim, quantas vezes você viu o presidente, o diretor de futebol ou qualquer outro integrante ao seu lado para lhe prestar apoio? Quantas vezes a diretoria deu declarações públicas, tácitas e transparentes de que confiava no trabalho do treinador? Mais: qual dirigente já assumiu a autoria de uma contratação errada? Pois é.
No mundo corporativo você também testemunhou o chefe cheio de conceitos errôneos, com decisões tortas e que por sua ausência dos holofotes coloca na linha de frente o subordinado autor de muitos erros, mas antes de tudo, empregado.
Um empregado tão abnegado e focado em suportar as broncas que mal sabe o que colhe: a perda de sua própria credibilidade.No final do ano, a mesma diretoria executiva vai aparecer no Conselho Deliberativo, exibir superávits e fazer propaganda sofisticada de seus feitos contábeis. Fora Kleina? Eles vão dizer: não temos nada com isso. E muitos vão acreditar.
Ao transmitir a impressão de que é bom empregado, Gilson Kleina agrada diretoria executiva, presidente de honra e todos os frequentadores de gabinetes. Ao não impor o seu profissionalismo – que é vasto- não só ele perde. É derrotada a própria Ponte Preta.
(análise feita por Elias Aredes Junior)