O presidente pontepretano Vanderlei Pereira esteve presente na entrevista coletiva de apresentação de Eduardo Baptista. Explicou o processo de negociação e aproveitou para rebater as acusações de que está ausente do dia a dia da Ponte Preta. Ao ouvir sua explanação passei a acalentar uma dúvida: ele tem noção do que é ser presidente da Ponte Preta? Sabe da responsabilidade e de suas implicações? Tem a dimensão do cargo?
Para que o raro leitor tenha noção do que falo vou destrinchar a declaração inteira, com as devidas aspas em negrito e as justificativas logo a seguir.
1-“Eu vivo a Ponte 24 horas por dia, em detalhes, do sub-11 ao profissional. Não tenho necessidade de estar sempre no treino. Para isso, temos outros profissionais”.
Equivoca-se Vanderlei Pereira ao dizer que não precisa encontrar-se presente no treino do time profissional. Tem necessidade sim e por um motivo: o regime de governo é presidencialista. A caneta é dele. A responsabilidade por aquilo que dá certo ou errado ficará nas suas costas. Então, o que justifica delegar responsabilidade na administração do principal ativo de um clube, o departamento de futebol profissional? Lauro Moraes, Sérgio Abdalla e até o próprio Sérgio Carnielli eram atentos e presentes. Por que Vanderlei Pereira pode ser diferente? Não pode.
“Não tenho de ser cobrado para estar aqui para dispensar o Kleina. Temos um gerente de futebol, um diretor. Minha relação sempre foi profissional com todos”.
Eu entenderia e concordaria com tal linha de raciocínio sob uma única condição: que Vanderlei Pereira não estivesse também presente nas entrevistas coletivas de apresentação de todos os treinadores que passaram sob a sua gestão. Ele pode até discordar (e tem direito disso) mas existe incoerência junto com seu sumiço na hora da dispensa de algum treinador. Transmite a impressão de que a atual diretoria executiva só quer surfar em ondas claras e gostosas, sem a pretensão de encarar os tsunamis presentes no cotidiano da Ponte Preta. Não são poucos.
Vanderlei Pereira deveria compreender que Gerente de Futebol é um profissional pago e remunerado para planejar e executar as diretrizes do departamento de futebol. O diretor de futebol, apesar de cargo estatutário, é alguém que carrega a pecha do cargo de confiança. O presidente representa a instituição. Ou seja, quando ele está ao lado de determinado treinador na entrevista coletiva de apresentação, o gesto é uma declaração pública de que a entidade Ponte Preta concede poder ao treinador para comandar o time. Nada mais coerente que quando os serviços não surtirem o resultado desejado que o mesmo representante do Estado pontepretano esteja pronto para dar explicações.
“Tive um papo com Kleina dias antes do jogo de sábado. Ele mesmo falou que, se o time não ganhasse, não teria condição de ficar por causa da pressão”.
Soa natural neste momento avaliar que Gilson Kleina não tinha condições de ficar. Ou dizer que conversou com o treinador a portas fechadas ou longe dos holofotes da mídia. Só que isso não resolve. Longe disso. Pergunto: quantas vezes durante esta crise tremenda, o presidente da Ponte Preta esteve na linha dianteira para hipotecar apoio ao ex-treinador? Quantas vezes encarou microfones e disse em alto e bom som que Kleina era treinador da Macaca ou para dar um prazo para que trabalho dê o resultado desejado? Ninguém sabe, ninguém viu. Tanto Gilson Kleina como o gerente de futebol, Gustavo Bueno foram fritados e incinerados em praça pública. Sem a reação de nenhum integrante da diretoria executiva.
Esta simples frase destrinchada neste artigo dá um singelo recado ao técnico Eduardo Baptista: faça bom ambiente, viabilize uma equipe competitiva e esteja preparado para as tormentas. Se o barco afundar, dificilmente terá um salva-vidas (leia-se diretoria executiva) para acudir.
O motivo de tamanho pessimismo é que o presidente Vanderlei Pereira, infelizmente não entendeu em profundidade o que é o mundo do futebol. Não adianta um bom trabalho administrativo ou de bastidores. Conta muito pouco para opinião pública saber que o presidente está presente as 24 horas do dia.
O que a arquibancada deseja é um dirigente presente, ativo, sem medo de dar explicações e que tenha em mente que gerentes remunerados, salas com ar condicionado e luxos nababescos em camarotes não conseguem esconder o essencial: a Ponte Preta é de sua torcida. Que dá provisoriamente a primazia de uma pessoa presidi-la e comandar.
Só que precisa prestar contas e dar satisfação. Não só para o Conselho Deliberativo, mas também ao trabalhador sofrido que pega ônibus ou vai a pé ao Majestoso para acompanhar os jogos. É dele o mandato de presidente. Ele merece satisfação, seja por declarações contínuas na imprensa ou por intermédio das redes sociais. Fora desse receituário, é decepção na certa.
(análise feita por Elias Aredes Junior)