Inaugurado no dia 12 de setembro de 1948 e considerado um dos principais símbolos de amor do torcedor a Ponte Preta, o estádio Moisés Lucarelli está no centro de uma polêmica no processo eleitoral, cuja votação acontecerá no dia 27 de novembro, mês também reservado para o registro das chapas.
Nos últimos dias, as redes sociais foram invadidas por discussões e boatos sobre a venda ou não do Estádio. A reportagem do Só Dérbi saiu a campo para descobrir as pontas desta história desde que há duas semanas recebeu de forma anônima uma cópia do contrato do clube com a construtora Gafisa.
Algumas páginas serão reproduzidas para explicar ao internauta toda a história intrincada. O assunto não é recente.
Um ofício do dia 26 de setembro de 2017 e encaminhado ao presidente do Conselho Deliberativo, Mauro Zuppi, pede explicações sobre o documento, que seria a comprovação de uma transação imobiliária e que em diversos pontos entraria em conflito com o estatuto do clube.
O pedido é assinado pelos conselheiros consultivos Marcelo Bertho, Paulo Sérgio Rocha e Ricardo Rosalem Ferreira. No pedido, os conselheiros pede o fornecimento do balanço financeiro fechado em 30 de abril de 2011 e que deveria constar a venda do estádio. Os conselheiros reafirmam que do jeito que foi concluído, o contrato não poderia ter sido fechado com a Gafisa, além da presença da assinatura solitária do então presidente Sérgio Carnielli.
Por intermédio da assessoria de imprensa, a diretoria executiva da Ponte Preta afirmou a reportagem do Só Dérbi de que o contrato é verdadeiro, tem a assinatura autêntica do agora presidente de honra Sérgio Carnielli, mas não se tratava de uma transação comercial sacramentada e sim de um documento de intenções (pré-contrato) e que por isso teve a sua rescisão estipulada devido a falta de andamento do cumprimento do mesmo (confira na íntegra as respostas da diretoria da Ponte Preta neste mesmo portal).
Venda para recuperar investimento no clube
O contrato é fundamental para entender a mecânica do atual presidente de honra para levar a Ponte Preta em outro patamar e também recuperar o seu investimento. A reportagem apurou que a meta era com a construção da arena acoplar o erguimento de uma torre comercial e que uma parte deste investimento seria revertido ao próprio presidente para com isso auxiliar no pagamento da divida que o clube tem com ele, de aproximadamente R$ 101 milhões.
No documento registrado no Terceiro Tabelião de Notas de Campinas a operação teria o aval de uma assembleia geral realizada no dia 25 de maio de 2009 e depois lavrada em 06 de outubro do mesmo ano. Pela assembleia, a diretoria executiva estava autorizada a fazer o negócio. No documento da ata registrado em cartório, entretanto, a
Assembléia na ocasião autorizou o negócio apenas com a construtora Odebrecht, o
que não foi adiante. O texto da ata diz o seguinte no item E da reunião: “apresentação do projeto final a ser submetido a Assembléia Geral Extraordinária, visando a construção do estádio de Futebol, denominado Arena, em parceria com terceiros (…)”.
Odebrecht na briga
Na pagina 02, a ata descreve a apresentação feita por Emyr Costa, representante na ocasião da construtora Odebrecht. O então vice-presidente de ocasião Sebastião Arcanjo, o ex-deputado estadual e vereador Tiãozinho prometia que o processo seria conduzido de maneira transparente. A votação aconteceu e o único voto contrário foi de Marco Antonio Eberlim, ex-vice-presidente de futebol e que já estava na oposição. Sobre o executor da obra, a diretoria da Ponte Preta reconhece que havia um desencontro, mas em sua resposta ao Só Derbi, a agremiação assegura que uma nova assembleia seria realizada para realizar a negociação. Negociação, alias, que a diretoria da Macaca assegura não prosperou.
O contrato estipulava a Gafisa o pagamento estipulado em três partes. A primeira seria um pagamento de R$ 240 mil para quitar os serviços do arquiteto responsável pela construção da Arena Ponte Preta. Uma outra parcela de R$
4,750 milhões seriam pagos pela construtora desde que ocorresse os projetos de
construção ou do empreendimento e que a Ponte Preta tenha transmitido a posse de imóvel dentro do prazo estipulado pelo imóvel. A transferência seria feita 30 dias após a aprovação do empreendimento, o que não aconteceu. O acordo previa ainda o pagamento de 13 parcelas mensais de R$ 5 milhões.
Na página 13, o documento determina que qualquer anúncio relativo ao empreendimento para a imprensa deveria ser feito em conjunto com os responsáveis pela Ponte Preta e a construtora.
O negócio que falhou
Por que o negócio não foi em frente? O que aconteceu? Uma pista é dada pela cláusula 8.1.1 e que estabelece no seu item A: “A Ponte Preta deverá, às suas exclusivas expensas e responsabilidade, tomar todas as providências necessárias para verificar a viabilizar e obter a aprovação do projeto de construção da Arena Ponte Preta pelos órgãos competentes, até doze (12) meses, contados desta data, ou seja, até 26 de novembro de 2011.
A diretoria da Macaca só conseguiu aprovação legal por intermédio de segunda votação na Câmara dos Vereadores no dia 28 de outubro de 2014. O evento teve a presença do presidente de honra, Sérgio Carnielli e do então mandatário, Márcio Della Volpe, que rompeu com o atual grupo político presente no estádio Moisés Lucarelli. A sanção do prefeito Jonas Donizete ocorreu no dia 27 de novembro de 2014, no Salão Nobre do Majestoso, quatro anos após a assinatura do contrato com a Gafisa.
Falta assinatura
O documento não deixa de provocar um cenário controverso. Na página 19, o documento demonstra que ele é assinado por Sérgio Carnielli como representante da Ponte Preta, Octávio Cortez Mariuti e Sandro Rogério da Silva Gamba como representantes da construtora. Márcio Della Volpe, responsável pelo departamento de marketing da Alvinegra na época, assinaram na época.
O documento, que a Ponte Preta defende como um pré-contrato, não tem a assinatura do diretor financeiro da época, o agora presidente Vanderlei Pereira, algo exigido pelo artigo 64 do Estatuto Social do clube. O clube justificou em resposta que antigamente não existia tal obrigação e que só existiu após a reforma do estatuto, executado para ficar adequado a reforma do Código Civil.
Testemunha ocular
Em contato com a reportagem do Só Dérbi, o ex-presidente pontepretano Márcio Della Volpe contou que participou de algumas reuniões para a finalização do negócio e confirmou que atuou na condição de testemunha. “O que eu lembro é que o departamento juDocumento afirma que acordo teria validade se o empreendimento fosse aprovado legalmente até o dia 26 de novembro de 2011rídico nos concedeu todo o respaldo para a negociação”, disse o empresário. Della Volpe revelou que após a assinatura do contrato, conflitos foram registrados com a Gafisa, especialmente uma tentativa da empreiteira exigir a prevalência do contrato e tomar posse do local. “Mas não aconteceu nada mais grave. Tudo estava estipulado em torno da Arena”, explicou.
Della Volpe revelou que, antes do destrato definitivo, a Macaca enviou uma notificação judicial de rescisão. “O contrato era de intenção e não de compra e venda”, completou o ex-dirigente, agora afastado do dia a dia do clube.
O Só Dérbi enviou um pedido de esclarecimentos para a Gafisa no dia 15 de outubro e quatro dias depois recebeu a seguinte resposta: “Agradecemos o contato. Mas, neste momento, a Gafisa não vai fazer nenhum comentário sobre o assunto”.
(texto e reportagem: Elias Aredes Junior)