Quem detém a maior cota de responsabilidade no rebaixamento da Ponte Preta: Gilson Kleina ou Eduardo Baptista?

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Uma casa bem feita tem alicerce decente. Caso contrário, mais dia ou menos dia tudo desaba. Sem pestanejar. Nos últimos dias, uma reflexão pode ser detonada na Ponte Preta: qual técnico teve maior cota de responsabilidade no rebaixamento? Gilson Kleina ou Eduardo Baptista? A resposta pode confundir, mas tem lógica: os dois, mas ambos não tem responsabilidade primária pelo fracasso.

Explico. No final do ano passado, Eduardo Baptista desligou-se da Macaca e aceitou o desafio de treinar o Palmeiras. O desmanche já tinha acontecido com as saídas de Felipe Azevedo, Rhayner e Roger. William Pottker e Clayson continuariam para o Campeonato Paulista. Boa notícia, desde que um técnico tarimbado fosse contratado para trabalhar. E qual foi a decisão da diretoria? Efetivar Felipe Moreira, que recebeu críticas de todos os lados. Na época, a justificativa era o sucesso de Jair Ventura, no Botafogo.

Felipe Moreira exibia uma diferença em relação ao caso no Botafogo. Além da vivência em todos os departamentos do clube, Ventura recebeu respaldo tanto do presidente Carlos Eduardo Pereira como do responsável pelo departamento de futebol, Antônio Lopes, com anos de estrada na bola. Na Macaca, nem precisamos dizer da “garantia” concedida pelo presidente Vanderlei Pereira e do diretor de futebol Hélio Kazuo.

Inexperiente e sem vivência no futebol, Felipe Moreira só ganhava os jogos em cima dos erros do adversário. Criatividade? Zero. Aproveitamento do potencial de Pottker, Clayson e, depois, Lucca. O clima ficou insuportável. Após a eliminação na Copa do Brasil para o Cuiabá, houve espaço para a chegada de Gilson Kleina. Com fácil trato, bonachão, bom diálogo e com trânsito na torcida, forjou um time com bom contra-ataque e recomposição eficiente, a medida certa para alcançar a decisão do Paulistão.

Só que no Brasileirão era preciso ir além. Na qualidade técnica dos jogadores e na formulação tática. Nada disso aconteceu. Kleina perdeu Pottker e Clayson, não conseguiu a recomposição desejada no elenco e, taticamente, seu time ficou previsível. Ligação direta como prato principal e a ausência de ultrapassagens, triangulações e tudo que faz um time minimamente competitivo.

A derrota para o Atlético-GO encerrou a gestão de Kleina. Na sua própria opinião, foi o estopim para o início de um período sabático, interrompido pela Chapecoense. “Depois que eu saí da Ponte Preta eu não queria mais trabalhar. Eu entendi que era preciso uma reflexão, reavaliar algumas coisas. Mas quando eu conversei com a diretoria da Chapecoense, é muito viva essa reconstrução e esse sentimento. Por isso não poderia me furtar de ajudar neste momento delicado”, disse em entrevista, na terça, ao Sportv.

Depois de sua saída e a chegada de Eduardo Baptista, o filme continuou, e com adendo: a exclusão de jogadores que ainda produziam futebol aceitável, como o zagueiro Marllon e o atacante Emerson Sheik. Tentou formular um time guerreiro, focado no aspecto tático e sem brilho. Colheu o rebaixamento como prêmio.

A revisão demonstra como os técnicos erraram ao longo de toda a temporada. Mas tudo isso só aconteceu também devido a falta de capacidade da diretoria em tomar decisões de modo rápido e certeiro. Contratar com qualidade e com pouco dinheiro. Se a Ponte Preta fosse um restaurante, podemos dizer que os cozinheiros contratados erraram a mão nos temperos e os pratos ficaram ruins. Mas os ingredientes adquiridos pelos proprietários deixaram a desejar.

(análise de Elias Aredes Junior)