A temporada é iniciada no futebol campineiro com gosto de cabo de guarda chuva. Muitos comemoram o retorno do dérbi programado para a Série B do Campeonato Brasileiro. Antes mesmo de a bola rolar, é imperioso alertar que o confronto não pode colocar uma cortina de fumaça sobre o processo de decadência vivido nas duas equipes.
Basta pesquisar o passado. Ponte Preta e Guarani já entraram em campo para protagonizarem semifinal de Campeonato Paulista, decisão de primeiro turno ou como integrantes da divisão de elite do Campeonato Brasileiro, algo ocorrido pela última vez em 2004. Ou seja, um adolescente nascido em 2005 que torce para Ponte Preta ou Guarani não sabe a sensação de ver o clássico campineiro no topo. Isso é bom? Não.
O torcedor pontepretano, com justiça, não aguarda o retorno do clássico com sabor de expectativa, e sim de raiva. Se a Macaca tivesse feito uma campanha minimamente decente no Brasileirão, o clássico não existiria. Disputar a Série B tem gosto de frustração e não de esperança.
O torcedor bugrino? Alimenta a falsa perspectiva de que está no mesmo patamar do rival. Só na tabela. E de uma única competição. Não disputa a Copa do Brasil há quatro anos, embala sua quinta participação seguida na Série A-2 e tem uma estrutura arcaica e inferior ao rival, que também não tem o que comemorar pois está atrasado em relação aos grandes centros.
Os dérbis poderiam ser utilizados como alavanca para o crescimento das duas agremiações. Ou a retomada de um protagonismo perdido nas décadas de 1980 e 1990. Não há esperança. Em primeiro lugar, por causa da qualidade limítrofe dos dirigentes das duas equipes, incapazes de reconhecer o jogo como um produto com alto poder de consumo. Preferem ficar em seus castelos e mundos ilusórios.
Enquanto isso, a caravana passa, a mediocridade finca raízes e sinal de melhoria é latente.
Pense: qual foi o último jogador de ponta (de ponta!) revelado pelos clubes? Eu digo: Luis Fabiano em 2000 pela Ponte Preta e Jonas, atualmente no Benfica, em 2005 no Bugre. De lá para cá, só bons jogadores, mas nada de excepcional.
Desde 2004, data do último dérbi no Brasileirão, o Guarani viveu rebaixamentos, acessos e algumas campanhas marcantes como a Série B de 2009 e o Paulistão de 2012.
A Ponte Preta, se por um lado pode dizer que disputou a divisão de elite em oito oportunidades desde 2004 e participou de finais de Paulista em 2008 e 2017 e Sul-Americana em 2013, também é refém de uma dinastia política que teima em permanecer. Já o Alviverde não tem caciques, mas é terra arrasada na formação de dirigentes.
Para completar o cardápio, os dois clássicos serão disputados com torcida única. Uma prova de que regredimos não só na bola, mas como coletividade. Uma pena.
(análise de Elias Aredes Junior)