Análise: Carnielli, Abdalla e o exercício do poder na Ponte Preta

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A entrevista de José Armando Abdalla à Rádio Central na quarta-feira foi um dos principais fatos da imprensa esportiva campineira na semana.

Entre tantas declarações ditas pelo novo mandatário, uma expressão chamou atenção: “A última palavra será minha”. Em qualquer clube seria algo banal e sem expressão. Na Ponte Preta ganha relevância. Nem tanto pela postura do atual presidente, que por enquanto mostra-se democrática e aberta aos elogios e críticas. Duro é constatar o portfólio conflituoso entre os mandatários do passado e o presidente de honra Sérgio Carnielli.

Existem dois episódios capazes de demonstrar as dificuldades a serem enfrentadas por Abdalla.

Em 2013, na reta final do Brasileirão, Carnielli queria o desprezo total à Copa Sul-Americana e força total no Brasileirão. Era importante salvar e assegurar a permanência no pelotão dianteiro. Márcio Della Volpe, o presidente de ocasião, bateu o pé, desafiou Carnielli e ao lado de Jorginho centrou fogo na Copa Sul-Americana.

Bateu na trave com o vice-campeonato e ganhou o ressentimento eterno por parte de Sérgio Carnielli. Que recusou apoiá-lo na reeleição e ainda lhe isolou na reta final do mandato. Della Volpe tem acusações contra si? Verdade. Só que a descrição do cenário não pode ignorar que o Conselho Deliberativo na ocasião tinha maioria em favor de Carnielli e isso isolou o dirigente por completo. Convenhamos: mesmo que verdadeiras, as acusações ficaram mais fáceis de se levar em frente. Detalhe: se a Justiça provar culpa de Della Volpe que as punições devidas sejam impostas.

Nem o melhor amigo Vanderlei Pereira escapou dos pitacos de Carnielli. Quando Felipe Moreira foi demitido, após a eliminação para o Cuiabá na Copa do Brasil, em 2017, a diretoria na ocasião ficou dividida sobre o novo treinador. A cúpula do futebol desejava a volta de Doriva e tinha receio da rejeição na arquibancada; Enderson Moreira era o preferido de Vanderlei Pereira, enquanto Ney Franco recebia a simpatia de alguns dirigentes. Pois Carnielli bateu o pé, impôs sua predileção por Gilson Kleina e o resto é história.

Mais: em reunião realizada no ano passado no Conselho Deliberativo já ficou famosa a frase dele em determinada intervenção: “Eu posso tudo na Ponte Preta, só não posso ser votado”. Tenha um telefone celular, um programa de troca de mensagens e verá a frase ao vivo e a cores. Sem cortes.

As movimentações de José Armando Abdalla demonstram alguém aberto ao diálogo e disposto a ouvir Carnielli, mas que não abrirá mão de exercer o seu poder outorgado pelo processo eleitoral e se possível até ficará contrário a posições tomadas por seus correligionários sempre que achar necessário. Ou seja, um presidente de fato e de direito, que vai acertar e errar e que tem identidade com a Ponte Preta.

Resta saber se Carnielli vai perceber que os tempos são outros e que novas ideias devem ser implementadas. Por que acima da vaidade dos homens está a Ponte Preta. Sempre.

(análise feita por Elias Aredes Junior/foto: PontePress)