Ponte Preta, Guarani e o papel da mulher no futebol. Ou o machismo como adversário cotidiano

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Os estádios de futebol passam por mutação. As classes média e alta invadem as arquibancadas e conduzem um processo de elitização inevitável. Nem toda noticia é ruim. As mulheres conquistam seu espaço. Torcem, são influentes, ditam ritmos, moda e tendências.

Ponte Preta e Guarani não fogem a regra. Digo sem medo de errar que a pontepretana Andrea Beletti e a bugrina Tânia Regina Santana tem o carinho das duas torcidas e suas palavras têm peso incalculável.

Também é impossível ignorar a presença da mulher na imprensa. A reporter Adriana Almeida, da TV Bandeirantes e a companheira Adriana Giachini, deste Só Dérbi, são exemplos de conduta, caráter, retidão e competência profissional. Mais: entendem de futebol. Muito. E não preciso fazer tal análise apenas no mês de março, dedicado á mulher. Fenômenos sociais não tem para acontecer e nem acabar.

Faço tal preâmbulo para fazer a seguinte indagação: por que para Ponte Preta e Guarani, lugar de mulher, em pleno Século 21, parece ser na cozinha? Sim, a pergunta é dura. Cruel. Dinamitadora. Necessária. Por um único motivo: as direções dos dois clubes não contam com uma única mulher na diretoria executiva. Nenhum dirigente. Ninguém com poder de influenciar. Um autêntico Clube do Bolinha por vias tortas.

Um clube fechado que prescinde da disciplina, planejamento, determinação e força do sexo feminino. Mesmo que por vias indiretas, uma declaração clara de machismo, de colocação da mulher como personagem secundário e subjugado.

Na arquibancada sim. Para planejar o futebol, nem pensar!

Alguns dirigentes bugrinos e pontepretanos devem ler este artigo e imediatamente colocam a caneta e o papel na mão para enumerar as funções exercidas por mulheres na estrutura do clube: fulana é nutricionista, ciclana faz isso, aquilo, etc e tal.

Pergunto: quantas mulheres hoje definem contratações no Estádio Moisés Lucarelli e Brinco de Ouro? Quantas mulheres são escolhidas para pesquisar, tabular, enumerar e direcionar os destinos do departamento de futebol dos clubes campineiros? Eu mesmo respondo: ninguém.

Ponte Preta e Guarani não fogem ao quadro do futebol nacional. Ou fogem? Pense que o Flamengo elegeu Patricia Amorim como comandante por um mandato. Teve péssima gestão? Sim. Não importa. O rubro-negro carioca abriu espaço, mudou o centro de decisão. Ousou. Tentou mudar. De forma indireta, buscou a quebra de uma estrutura viciada e carcomida.

O machismo como escudo

Por que tal quadro acontece? Por que tamanha resistência em bugrinos e pontepretanos aceitarem ou destrincharem o caminho para que mulheres promovam uma revolução do bem?

Eles não falam mas terei a humildade de revelar: o futebol é a última trincheira de resistência do machismo. Um fenômeno que, no fundo, esconde uma verdade dura que todos nós, não encaramos: nós homens, somos imaturos, infantis, brutos, violentos, temos dificuldade de dividir espaço com as mulheres no centro da decisão de poder (em qualquer poder!) e buscamos desqualificar qualquer mulher que deseja intrometer-se neste mundinho fechado, limitado e sem nexo do futebol.

Retaliação? Simples: enquadrando a mulher como objeto ou emitindo códigos e dialetos que exibam o conceito que este mundo é nosso. Não pode ser repartido. Não pode ser revelado. No máximo, a mulher deve considerar como instante de lazer e entretenimento. Protagonista? Nunca, jamais.

Quando surgirá a revolução?

Como campineiro que sou, gostaria de presenciar mulheres no comando dos clubes de Campinas não apenas como vanguarda na administração e na obtenção de resultados, mas na construção de novos costumes e comportamentos.

A sociedade, o Brasil e o futebol brasileiro não suportam mais esta exclusão silenciosa. Sonho com o dia que Campinas dará o passo inicial para fugir do atraso, do preconceito e da barbarie. Não custa esperar e lutar. Sempre com o foco de que nós, homens, não somos parceiros em tal empreitada e sim personagens enlouquecidos para quitar uma dívida de anos, décadas e séculos de preconceito e desprezo. Que tal dívida seja paga no menor tempo possível. Seria um gol de placa.

(análise feita por Elias Aredes Junior)