Copa do Mundo. O jogo mais importante. Acerto de contas? O que é o dérbi? O que faz uma cidade de quase 1,2 milhão de habitantes parar para ver 90 minutos de um esporte fadado a criar ou parar guerras?
Futebol é ilusão de ótica. É o pano de fundo pronto a esconder a alma. Não é somente Ponte Preta e Guarani. Macaca e Índio. Bugrinos e pontepretanos. Cada encontro marcado na tabela é o aviso: Ficaremos nus. Corpo, espirito, sentimento. Por inteiro.
Dérbi é Campinas. Cidade com suas imperfeições, desafios, preconceitos e desigualdades. O dérbi é o palco do pobre, excluído, desempregado, de quem vive sem esperança. Não tem amanhã. Aluga o otimismo para consumir o cheiro fugaz da sobrevivência. Uma bola no pé, a rede balança e a dor é aplacada. De um lado ou de outro.
Ponte Preta e Guarani é a Campinas dos sonhos. Do ajuntamento, do congraçamento, solidariedade. Do bate papo no Largo do Rosário, da admiração a partir do balcão do Café Regina ou do Café Orly.
Duelo de orgulho, humildade, cautela, recolhimento. É para ver ruas centrais virarem passarela do garoto do Jardim Santa Odila e ter a cidade nas suas mãos.
Do mineiro treinador iniciante de cabelos escuros caminhar de peito estufado pela vitória, pelo titulo que ninguém esperava. Sequer o rival. Ou do menino com apelido de palhaço ganhar o mundo.
Duas camisas, duas histórias, infinitas emoções. Do sorriso fácil de Bozó, do guarda chuva de Donana ou das frases de efeito de Conceição. Do Carlos Zara, que antes de ator tinha outra paixão: Guarani. Para ele, ser campeão de audiência era vencer a rival eterna. O torcedor anônimo na ciranda da vida transforma-se em astro na arquibancada. Bandeira erguida, camisa molhada e suada, para atuar na imaginação. Comemorar uma vitória como se fosse sua.
O dérbi sempre pronto a distorcer a meritocracia do esporte. Quem está mal um dia vira benção no outro.
Quem posta-se como Deus de dia vira habitante do purgatório à noite. Basta um chute, uma cabeçada, uma manipulação dos deuses e bruxos da bola e tudo vira de pernas pro ar.
Jornalista? Torcedor? Pouco importa. A alma pulsa e avisa: o dérbi jamais terminou. É jogado dentro do meu, do seu, do nosso coração. Que vença o melhor.
(artigo de autoria de Elias Aredes Junior)