O torcedor da Ponte Preta está apreensivo com a proximidade do Campeonato Brasileiro. Sua reclamação é direcionada ao nível técnico do elenco e pelo temor de lutar contra o rebaixamento. Mais: seu inconformismo pela falta de perspectivas é latente. Sonha com o dia em que a Macaca lute para alcançar as primeiras posições. Vislumbrar um título ou uma vaga na Libertadores. Sentimento aguçado após a façanha do Leicester, o novo detentor do futebol na Inglaterra.
Não tiro a razão do torcedor pontepretano. Ele pode e deve querer mais. A equação só é complicada. A CBF e os grandes clubes formularam um calendário e uma estrutura que peca pela fome de exclusão, de nunca privilegiar os pequenos e médios. Um dado precioso: nos 13 anos de disputa dos pontos em apenas sete oportunidades, uma equipe fora do clube seleto dos 12 gigantes terminou entre os cinco primeiros colocados. Mais: em três oportunidades a façanha coube ao Atlético-PR, que em 2004 consagrou-se vice-campeão nacional. Recado dado: é difícil, mas dá para sonhar. Como?
Com criatividade e imaginação, a Ponte Preta poderia diminuir o fosso financeiro com os principais “players” do futebol nacional. A alvinegra neste ano, se tiver boa vontade da Rede Globo receberá uma cota de participação de R$ 25 milhões enquanto Flamengo e Corinthians embolsam cada um R$ 170 milhões. Disparidade pornográfica.
É possível amenizar o quadro. Valorizar e revelar jogadores de qualidade nas categorias de base encurtaria caminhos. Veja o caso, por exemplo, do Atlético-PR, que de suas fileiras retirou jogadores do porte de um volante como Otávio, técnico e com boa visão de jogo. Pense: nos últimos anos, quando a Ponte Preta teve a base do time titular formada por quatro ou cinco jogadores revelados do Sub-20? A ciranda constante de atletas, produto do ritmo do mundo da bola, serve para assegurar permanência mas impede a montagem de uma base estável, com geração de recursos e que dê frutos em médio e longo prazo. Não, não conte Ravanelli como jogador que destrói a teoria. Ele é a exceção que confirma a regra.
Incentivar o trabalho de médio e longo dos treinadores seria outra medida acertada. Eduardo Baptista só virou ambição pontepretana porque teve 127 jogos para exibir seu potencial no Sport Recife. A própria Macaca colheu os frutos de tal situação: Gilson Kleina só se transformou em ativo interessante no mundo da bola porque teve 115 jogos na Ponte Preta para colher um acesso á Série A de Brasileirão e uma participação em semifinal de Campeonato Paulista. Foi o suficiente para posteriormente dirigir Palmeiras, Bahia e Coritiba. Após a saída de Kleina, o atual técnico da Chapecoense Guto Ferreira foi o que se aproximou de tal padrão, mas foi vitimado na primeira oscilação colhida no Brasileirão do ano passado.
Uma terceira medida é transformar o Estádio Moisés Lucarelli em trunfo e nunca como carga. No ano passado, o time pontepretano disputou 57 jogos em casa e faturou 31. Ficou em 13º lugar no ranking como mandante. Para se ter uma ideia da quantidade de pontos desperdiçada basta dizer que o Sport acumulou 44 pontos em 19 jogos disputados na Ilha do Retiro e na Arena Pernambuco.
Sim, a priori as medidas parecem simples de serem abraçadas e adotadas. Mas o futebol tem seus caprichos e mistérios. Tomara que a Macaca entenda e saia do lugar comum agora e nos próximos anos.
(análise feita por Elias Aredes Junior)