De responsabilidade do museu da Universidade Federal do Rio Grande Sul e do do Observatório de Discriminação Racial no Futebol foi divulgado no dia 07 de dezembro o Relatório Anual de Discriminação Racial no Futebol.
Pelo levantamento, o Brasil registrou no ano passado 77 casos de alguma forma de discriminação, sendo que dois ocorreram em Campinas. E o futebol ainda ainda registra a maioria dos casos. Dos 69 (sessenta e nove) casos que ocorreram no Brasil 61 (sessenta e um) estão relacionados ao futebol e 08 a outros esportes.
Dos 61 (sessenta e um) casos relacionados com o futebol, 43 (quarenta e três) ocorrências estão atreladas a discriminação racial; 10 (dez) a LGBTfobia; 05 (cinco) com machismo; 03 (três) com xenofobia.
Na questão do racismo, há um crescimento vertiginoso. Em 2014, ano inicial do trabalho, foram catalogados 20 casos e no ano seguinte outros 35 casos de racismo. Os 12 meses de 2016 registraram uma queda com o registro de 25 ocorrências. Em 2017, foram 43 casos.
Duas ocorrências foram registrados em Campinas e constam do relatório. O primeiro é de homofobia. No dia 08 de maio de 2017, o Guarani anunciou a contratação do volante Richarlyson, ex-São Paulo. A reação homofóbica foi retratada pelo relatório da seguinte forma:
Fato: Torcedores atiram bombas no estádio Brinco de Ouro em protesto a contratação do volante Richarlyson. Além disso atleta foi ofendido em redes sociais e vereador fez comentários homofóbicos em relação ao jogador.
Desdobramentos: Pouco antes da apresentação, o estádio bugrino foi alvo de pelo menos cinco bombas atiradas por dois homens em uma moto. Apesar das explosões, ninguém ficou ferido. Na página oficial do Guarani no Facebook, tanto rivais quanto bugrinos publicaram insultos e piadas homofóbicas sobre o volante. O vereador Jorge Schneider (PTB) também foi criticado por ironizar a contratação na rede social: “A pessoa certa no lugar certo”, comentou. A assessoria de imprensa de Schneider, que é torcedor da Ponte Preta, rival do Bugre em Campinas, explicou que ele foi mal interpretado ao fazer uma brincadeira sobre futebol e afirmou que o vereador não teve a intenção de ofender o atleta. A diretoria alviverde prometeu prestar queixa no 10º Distrito Policial de Campinas pelas bombas e ressaltou que a manifestação isolada não reflete o pensamento de sua torcida.
Como terminou: O caso não foi levado adiante, Richarlyson disse que pretendia calar os críticos com bom desempenho em campo. Não foram encontradas informações sobre o registro da ocorrência.
Posteriormente, no Campeonato Brasileiro, o foco foi em cima de ataques machistas. No dia 26 de junho de 2017, na partida entre Ponte Preta e Palmeiras, ofensas contra as jornalistas repórteres foram registrados. O Relatório descreveu o caso da seguinte forma:
“O comportamento foi deplorável e lamentou que não foi apenas um fato isolado, mas faz parte do cotidiano nos estádios brasileiros: “Ontem foi no Moisés Lucarelli, mas anteontem foi na Arena da Baixada, no Independência… as ofensas às pessoas que trabalham nos jogos, às repórteres, às fotografas estão passando do limite. Falar: ‘Vou te estuprar’. Pense se sua mãe ouvisse isso, se sua irmã, se sua esposa ouvisse isso. é isso que nossas colegas repórteres ouvissem”, “Isso é uma coisa distante da humanidade, mas acontece com muita frequência (…) Você tem que ser preso. Se sua mãe visse ou ouvisse, ou mesmo fizesse a leitura labial, ela teria vergonha extrema de você. Se meu filho fizesse isso, não sei como olharia na cara dele”, desabafou o jornalista. A repórter Ana Thaís Matos, das Rádios Globo/ CBN, foi uma das profissionais ofendidas emCampinas e compartilhou o vídeo de Marra.
Como terminou: O caso repercutiu na mídia e a atitude de Mário Marra serviu para levantar uma bandeira pelo respeito do jornalismo feminino”.
O relatório de responsabilidade da universidade gaúcha é uma prova cabal de que a instituição de torcida única é uma medida manca, levando-se em conta de que existem diversas formas de violência e que atos de discriminação são os mais ostensivos e estão presentes tanto no Moisés Lucarelli como no Brinco de Ouro.
Tudo reflexo de uma sociedade violenta e que ainda conta com o racismo, homofobia, machismo e outras maneiras de discriminação presentes. Guarani e Ponte Preta precisam tirar a máscara e encarar a realidade: somos um país e uma cidade violenta. E somente ações efetivas que ataquem nossa desigualdade social podem mudar essa realidade. E os clubes podem ajudar. Dentro e fora do gramado. Basta querer.
(texto, reportagem e análise de autoria de Elias Aredes Junior)
O Relatório completo você pode ler na íntegra logo abaixo: