“Vem cá: para que time você torce?”. Perdi a conta das vezes que fui defrontado com tal pergunta. A curiosidade chega ao níveis surpreendentes. Para alguns, é questão de vida ou morte. Para quem escreve e acompanha esporte é um assunto irrelevante.
Obvio que quase todos os jornalistas têm um time. Caso contrário, não estariam no oficio.
Coloco a palavra quase de propósito. Com o passar do tempo o encanto vai pelo ralo. A paixão do menino permanece, mas com o pé fincado no chão. Você é apresentado a um mundo podre, viciado, de luta fraticida pelo poder e em que o dinheiro prevalece acima de tudo. Já ouvi a seguinte frase de quem lida com futebol: “Quem torce para time de futebol é bobo. Isso aqui é para fazer dinheiro e só”.
Quando escuto tal frase eu penso como tem valor relativo o amor de quem paga ingresso, acompanha os jogos, perde noites de sono pela derrota do time querido. No fundo, no fundo, poucos dentro do futebol sofrem genuinamente. O interesse monetário fica acima de tudo e de todos.
Trabalhar na imprensa colabora para a queda do véu. Conheci muita gente boa e de caráter na crônica esportiva. Talentosos, estudiosos ou que mesmo que tenha seu foco na atuação comercial e que tinham uma conduta correta, sem promiscuidade com os clubes. Só que também conheci o outro lado nada nobre: vaidades infundadas, falta de empatia ao próximo e a destilação de inveja pela alma que fere quem está ao redor. Pergunto a você: como deixar o amor intacto diante de tantos aspectos negativos? Não dá.
Amo assistir e estudar futebol. Mas a chama ficou a meio fio. Você conhece pessoas e se depara com fatos que fazem você reavaliar o que você faz e para que faz. No caso de Ponte Preta e Guarani meu interesse hoje está em acompanhar os trabalhos dos dois times no gramado, os fatos de bastidores e tudo aquilo que é feito para prejudicar o torcedor. Defendo o perfil do torcedor pobre, com ganho de um salário mínimo e que muitas vezes tira o dinheiro da boca para comparecer ao estádio.
Talvez nunca tenha falado para multidões. Pouco importa. Interessa é entender o futebol como fenômeno social e buscar suas nuances. Compreender que o bugrino e o pontepretano é, antes de tudo, apaixonado, irracional e não consegue detectar que a critica construtiva é feita para seu próprio bem. E do seu time.
Da minha parte, quero ver Ponte Preta e Guarani na Série A do Campeonato Brasileiro, no G-10, com arenas modernas e com times capazes de disputarem as 10 primeiras posições e quiça sonhar com Libertadores. É o que posso esperar de duas equipes situadas em uma região metropolitana com 3,3 milhões. Quero que eles não ouçam mais aqueles que se contentam com desempenho medíocre e foquem no crescimento maduro, paulatino e constante. Sem caciques ou mecenas. Com participação da comunidade.
Para que time eu torço? Diante de tantos desafios convenhamos: isso é totalmente irrelevante.
(análise feita por Elias Aredes Junior)