Futebol, Samba e Campinas: o que vai sobrar desta associação?

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Eu não pulo carnaval. Nunca frequentei um clube. Jamais participei de um desfile. Falta de gosto? Sim. Mas deixar de apreciar o feriado não desassocia o sentimento de respeito e sede de conhecimento por uma manifestação popular que é a cara do Brasil. Cidades e estados com seus blocos e foliões prontos para protestarem com irreverência. Seria louco de renegar a importância de Martinho da Vila, Beth Carvalho, Adoniran Barbosa, Zeca Pagodinho, Leci Brandão, Cartola, Paulinho da Viola entre outros. Gênios do samba e filhos do carnaval. Merecem todas as homenagens.

Tenho um amigo. Chama-se Bruno Ribeiro. Bugrino, jornalista e profundo conhecedor do samba e de suas histórias. Especialmente de Campinas. Poderia convidá-lo para discorrer neste Só Derbi sobre o tema e a homenagens a sambistas locais que tenho convicção de que são gênios. (Mas ainda dá tempo: Bruno, se quiser escrever, a porta está escancarada!)

A luta de Bruno Ribeiro e outros abnegados me faz continuar em frente minha luta pelo futebol campineiro. Nem ouse perguntar qual a relação. Tem tudo a ver. Absolutamente tudo.

Números frios, ausência de sensibilidade e o flerte com o fundamentalismo religioso fizeram com que o samba campineiro passasse por grandes perrengues. Querem transportar o “modelo” para o futebol. Não aceito. Quero um futebol campineiro competitivo e um samba e carnaval que seja expressão de nossa cidade, cultura e história.

Vejo no site da prefeitura que 36 eventos serão destaques no carnaval campineiro. Em 15 locais: Barão Geraldo, Cambuí, Campo Grande, Campos Elíseos, CDHU Vila Renascença, Centro, Jardim Chapadão, Joaquim Egídio, São Bernardo, Satélite Iris I, Sousas, Vila Costa e Silva, Vila Nova Teixeira, Vila Padre Anchieta e Vila Teixeira. Legal, ótimo, oportuno…Mas e os desfiles das escolas de samba?

Era com poucos recursos? Confusões nas apurações? Um desfile que por vezes deixava a desejar? Tudo verdade. Mas também é límpido e cristalino que as pessoas integradas as escolas de samba viviam aquilo como algo único, mágico, inesquecível para elas.

Lembro do meu tio. Samuel Pompeo. Morreu com 49 anos em 2004. Pobre. Era carpinteiro na prefeitura. Sofreu com a vida. E tinha nos desfiles anuais pela Francisco Glicério o único momento em que era soberano. Rei da Avenida. Dono dos seus sonhos. Se estivesse vivo estaria triste. Retiraram a única centelha de felicidade da parte dele.

Alguns concordam com a inviabilização dos desfiles porque eram financiados com recursos públicos. Se carnaval é uma manifestação cultural e pública, qual o problema?

Os Blocos Carnavalescos são uma fonte de resistência e criatividade contra essa Campinas pobre e careta e com desejo de exterminar com tudo associado a alegria e com porta aberta aos pobres e classes sociais. Desidrataram o samba local,  e querem acabar com o futebol. Que tudo isso seja revertido. E me devolvam a Campinas que conheci na infância.

(Elias Aredes Junior)