Mário Celso Petraglia, comportamento machista e o ditador que existe em cada um de nós

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Luana Kaseker é repórter da Gazeta do Povo, em Curitiba (PR). Estava presente em uma coletiva com Mário Celso Petraglia, o dirigente mais influente do Atlético Paranaense. Em dado momento fez uma pergunta pertinente: sobre a divida referente a construção da Arena do Furação e que alcançava R$ 400 milhões.

Assunto relevante, especialmente porque nos meses finais de construção do empreendimento para a Copa do Mundo o clube pediu socorro ao governo estadual. E depois quis dividir a conta com a prefeitura e o governo do estado, algo que foi recusado.

Ou seja, dinheiro público na parada. Meu, seu, de todos nós. Nada mais justo querer saber desdobramentos do assunto.

A resposta do dirigente foi um espetáculo deprimente. Petraglia desferiu uma série de impropérios contra a repórter e finalizou com um “cale-se”. E requisitou um pedido de desculpas quando a garota agradeceu a resposta.

A repercussão foi avassaladora. Internautas foram solidárias a repórter. O que me espantou foi uma quantia relevante de pessoas em defesa da postura do dirigente. Argumentos como de que “o assunto não estava em pauta” ou que a menina mereceu revelam duas facetas nada nobres da sociedade brasileira.

A primeira é de que existe um ditador em cada um de nós. Quem sofre com tal fenômeno são os jornalistas, independente da editoria de atuação. Temos dois instrumentos fundamentais para atuação,  a liberdade de expressão e de pensamento. Isso implica em perguntar aquilo que for necessário para a satisfação da opinião pública.

O problema é quando cada torcedor avaliza dirigentes. Não podem ser criticados e contestados. E neste embalo manipulam para que estes  torcedores adotem uma postura quase infantil e subserviente as suas vontades. Luana foi vitima de pessoas que associam autoritarismo com eficiência. Nada mais equivocado.

O outro aspecto nem preciso dizer: o machismo. Apesar dos inegáveis avanços dentro do jornalismo esportivo e no próprio futebol, é fato que a mulher (infelizmente!!!) é tratada como um ser menor. Trágico e lamentável. Isso quando não é alvo de objetificação. Petraglia entregou o ouro ao demonstrar clara irritação e mudança constante de tratamento. Uma hora senhora em outra senhorita.

Esqueceu o básico: existia ali um ser humano. Que merecia respeito. Vou mais longe: será que Petraglia apresentaria tal postura se do outro lado estivesse um homem? Tenho dúvidas.

Ninguém tira os méritos de Petraglia ao ter tirado o Furação de um patamar e colocado em outro. É histórico. Isto não lhe dá o direito de entabular um tratamento grosseiro a uma profissional que está lá cumprir seu dever.

Pessoas não entram para a história apenas por seus feitos, mas também por sua empatia perante o semelhante. Neste quesito, Petraglia marcou um golaço. Contra.

(Elias Aredes Junior)