Quem disputa a elite do futebol nacional tem privilégios. Ganha salários de bom poder aquisitivo, visibilidade na mídia e a possibilidade de chegar em degraus relevantes. Se estiver em um clube médio, existem ainda 12 opções para coroar a carreira. Se for de um time grande, a Europa é a estação mais desejada. Sim, os atletas pontepretanos não fogem deste quadro. São agraciados. Alguns sofrem além do normal. Exemplo clássico: Clayson. Técnico, habilidoso, com poder de conclusão de razoável para bom, é o tipico jogador com potencial para fazer carreira.
Por que a resistência de uma parte da torcida da Ponte Preta em aceitá-lo? Por que a condenação sumária antes mesmo de tocar na bola? Já abordei este tema nesta temporada, mas acho que vale a pena retornar com um aprofundamento.
Nós, pobres mortais e destinados a viver de salário, estamos sujeitos ao fantasma do desemprego. Ficamos submetidos as intempéries da economia.Somos obrigados a mudar e encarar um novo desafio. Qual a providência primária adotada? Buscar informações da nova empresa, seus costumes, regras e como fugir de armadilhas que podem abreviar a estadia. Ligar para um amigo próximo que já esteja integradome saber de que maneira procede a nova chefia, o que gosta, o que não gosta, o perfil dos companheiros de trabalho…Todos os detalhes são buscados para que a adaptação e a produção seja satisfatória e em curto espaço de tempo.
Clayson pode até falar o contrário, mas tenho uma impressão que o jogador caiu em algo adotado erroneamente por 99% dos jogadores brasileiros: desconhecer o local em que vão vestir a camisa. O que interessa é a meta individual: bons salários, atuação de arrepiar e consequente transferência. O resto é detalhe.
Se Clayson fosse cuidadoso, antes de sacramentar sua saída do Ituano e desembarque no Majestoso, ele saberia que a torcida da Ponte Preta é formada majoritariamente por gente pobre, desassistida e que comete todo e qualquer tipo de sacrificio para encontrar-se no Majestoso. E que sua expectativa é que o jogador tenha o mesmo espírito. Em miúdos: o torcedor quer jogador de bom quilate técnico, mas exige raça, dedicação, determinação, superação e luta. Se estiver em péssimo dia, tudo será perdoado se a alma ficar no gramado. Se isso não for verdade como explicar a identificação da torcida com jogadores como Monga e Alexandro. Eram e são limitados? Sim. Mas se entregavam de corpo e alma em busca do gol. Contaminavam (no bom sentido) o elenco com essa busca incessante.
Em outras ocasiões, a própria característica do jogador auxiliava na identificação. Depois de uma dificuldade aqui e ali para receber a chancela daqueles que empunham a bandeira pontepretana, Luan, atualmente no Atlético Mineiro, teve uma vida exitosa no Majestoso. Por que? Ao lado da velocidade e habilidade inegáveis, vinha de “bônus” um espírito de luta e determinação de alto grau.
Agora pegue o exemplo de Luan e coloque em Clayson. Ninguém nega sua qualidade. Só que perceba ás vezes a postura blasé, instantes que uma firula ou jogada com enfeite parecem ser prioridade. Transmite a impressão de que apenas sua qualidade será suficiente. Não é. E a torcida da Macaca não se conforma. Seria o mesmo que você ser dono de restaurante e sempre oferecer frutas, verduras e legumes para quem deseja carne suculenta.
Isso não tem relação com produção de uma sentença para Clayson. Tem grande possibilidade de conseguir uma transferência ao final da temporada. Que seja feliz. Mas enquanto não aprender a necessidade de pesquisar e detectar onde pisa, as cobranças de Clayson na Ponte Preta não serão um ponto fora de curva e sim uma desagradável rotina.
(análise feita por Elias Aredes Junior)