A Ponte Preta vive dias agitados e recheado de polêmicas. Roger está no centro das atenções. Seu processo de renovação de contrato veio a público e detonou um espiral de ressentimento e de agradecimento nas arquibancadas e redes sociais. Alguns lhe enaltecem. Outros repudiam. Versões são divulgadas e fica díficil concluir quem é mocinho ou vilão. Mas é algo possível desnudar: a política administrativa e financeira da Macaca. As conversas da diretoria com o atleta revelaram uma faceta: se for preciso sacrificar ídolos para sustentar a saúde financeira da agremiação, assim será feito.
Pelas noticias, Roger teria recebido uma oferta de renovação para 2017 abaixo dos rendimentos de Wellington Paulista, frequentador do banco de reservas. Mesmo se tal versão não corresponder a verdade, não podemos esquecer o repúdio da Macaca em bancar altos salários ou por vezes valorizar atletas de bom rendimento. Tanto que no ano passado o superávit entrou no vocabulário. Não é á toa.
Não prego a irresponsabilidade financeira. Aliás, os dois extremos são danosos. Quem é fixado em economizar e coloca objetivos esportivos em patamar inferior com justiça recebe a alcunha de pessoa sem ambição. Quem torra os recursos, deixa os cofres vazios, mesmo com a conquista de títulos, carrega a pecha de irresponsável para sempre. Vide Edmundo Santos Silva no Flamengo. A Macaca escolheu o primeiro percurso. Nada mais desapropriado em virtude da fissura do torcedor por um título. O fruto de longo prazo por esse caminho ficará ainda mais extenso até ser colhido.
Reconheço a disparidade de renda do futebol brasileiro. É pornográfico constatar que enquanto o time campineiro recebeu R$ 28 milhões, Corinthians e Flamengo juntos levaram cada um R$ 170 milhões. Injustiça na veia e sem anestesia. Só que tal realidade não pode servir de desculpa para bloquear os avanços e melhorias.
Explico: o gerente de futebol, Gustavo Bueno defende a boa campanha pontepretana devido ao fato de encontrar-se entre os 10 primeiros colocados, nunca ter sido ameaçado de rebaixamento e com relação custo-benefício superior ao Internacional, por exemplo, envolvido na luta contra o rebaixamento.
Esse não é o Xis da questão. Longe disso. O detalhe é que em 2015 a Macaca teve a sua disposição R$ 20 milhões de verba e que teve um desconto gerado por contas passadas. Ficou em aproximadamente R$ 15 milhões. Neste caso, é justificado investir em apostas, bancar a contratação de jogadores emergentes e uma folha salarial pequena. O dinheiro é curto. Logo, a ambição de permanência é adequada.
O problema é que em 2016 a Rede Globo atendeu as reivindicações da Macaca, incrementou a verba de televisão (pouco, mas aumentou) e qual foi a decisão da diretoria? Novas apostas, mais contratações a preço de custo e de acordo com informações e especulações, a decisão de bancar a permanência de boa parte do elenco desde que não ocorra aumento na folha salarial.
É um contrasenso. Ora, se esse elenco sequer ficou ameaçado de queda para a Série B, emplacou boas partidas contra Palmeiras, Corinthians, Botafogo e cravou um belo aproveitamento em casa, como justificar a falta de valorização?
O que a Ponte Preta deseja: um cofre cheio de dinheiro ou a galeria de troféus com novas conquistas? Se conseguirem responder a essa pergunta, os dirigentes pontepretanos talvez encontrem o motivo de tanto descrédito, ressentimento e falta de paciência dos torcedores para aqueles que estão sentados nos gabinetes, aparentemente desconectados dos desejos e ambições do seu público-alvo. Ainda dá tempo de corrigir. Antes que seja tarde.
(análise feita por Elias Aredes Junior)