Capitaneado pela Universidade Zumbi dos Palmares e pela ONG Afrobras, o movimento AR decidiu conceder um selo de qualidade a Ponte Preta por seu trabalho e sua história na luta contra o racismo. O simbolo estará presente no uniforme oficial.
Nada mais natural ao percebemos que o atual presidente, Sebastião Arcanjo, o Tiãozinho, é o único presidente de origem negra entre os clubes das séries A e B. Elogiável sob todos os aspectos.
A distinção honra personagens como Miguel do Carmo e até personalidades como Cilinho, que fizeram sua história interligados a Ponte Preta.
Infelizmente, este aspecto positivo não apaga a perspectiva de que esta população negra pode (pode!) ser vitima de um Cavalo de Troia por parte do seu clube do coração.
Para quem não conhece a origem da expressão, o Cavalo de Troia foi um grande cavalo de madeira construído pelos gregos durante a Guerra de Troia, como um estratagema decisivo para a conquista da cidade fortificada de Troia.
Tomado pelos troianos como um símbolo de sua vitória, foi carregado para dentro das muralhas, sem saberem que em seu interior se ocultava o inimigo. À noite, guerreiros sairiam do cavalo, dominam as sentinelas e possibilitam a entrada do exército grego, levando a cidade à ruína
E qual o Cavalo de Tróia da Ponte Preta? A Arena que será construída no Jardim Eulina. Hoje ela é vendida como a solução de todos os males. Perceba que em nenhum momento os condutores do processo encaminham qualquer proposta sobre como agregar os torcedores pobres.
Pior: a informação é escassa. Este jornalista pediu uma entrevista com os responsáveis pela construção da Arena. Quando era atendido pela assessoria de imprensa, a justiticativa é que documentos precisavam ser juntados antes de falar. Questiono: precisa juntar documentos para falar que o torcedor pobre pode e deverá ser bem recebido no novo espaço?
Pobres que em sua maioria, são negros. Como a maior parte da parte da população brasileira. De acordo com dados do IBGE, 75% dos pobres são negros; Já entre os 10% mais ricos, a situação se inverte: 72,9% são brancos e 24,8% são negros. Mais claro, impossível. Isso não é dedução. É informação.
Reafirmo a analogia do Cavalo de Troia porque os defensores da Arena vendem hoje o espaço como algo que será utilizado por todos os pontepretanos. Quando ocorrer a inauguração e o preço do ingresso for cobrado e ficar bem acima daquilo que é praticado no Majestoso, quem você acha que ficará de fora? Os negros e pobres, claro.
Ou você acha que alguém com obrigação de sustentar uma família com um salário mínimo pode ir a um estádio e pagar um ingresso com R$ 100 ou R$ 200?
Luta contra o preconceito racial é obrigação colocada para todos os segundos. Se o passado e o presente estão corretos, fica claro que o futuro para quem é negro e pobre não será muito favorável na Ponte Preta. Elitização na veia. Infelizmente.
(Elias Aredes Junior)