Alguns conceitos não podem ser embaralhados. Corremos o risco de estragar todo um trabalho ou até um setor profissional. Veja a confusão estabelecida no jornalismo esportivo brasileiro quando se faz a cobertura de temas voltados a cidadania e a proteção de direitos das minorias.
Ponto número um: posicionamento político é quando me coloco contra o machismo, homofobia, racismo e todo e qualquer desrespeito às minorias. Denuncio e cobro providencias e punições rigorosas. Não fico em cima do muro. Mas não me envolvo ao ponto de ficar inabilitado para uma análise criteriosa quando esses grupos são objeto do meu trabalho.
Militância política é diferente. Você defende tais grupos ao ponto de se recusar a enxergar os seus defeitos. Fica igual aos militantes que defendem seus candidatos sem ver nada pela frente. Dura realidade: o jornalismo esportivo brasileiro está cheio de militantes políticos e com ausência de profissionais que tenham posicionamentos coerentes, inclusivos e sábios. O que no final das contas é o exercício da política. De modo correto.
Incompetentes existem em todos os espaços. Podem ser de qualquer perfil seja social ou econômico: homem, mulher, branco, amarelo, negro, LGBTQIA+. Não escapa ninguém.
Concordo quem afirma que o incompetente branco e heterossexual recebe absolvição na sociedade, seja qual for o tamanho do estrago. Isso não quer dizer que os outros grupos devem ficar isentos.
Todos devem ser cobrados.
Em último caso punidos com demissões ou medidas corretivas. Isso vale para qualquer espaço de convivência.
Inclusive no futebol.
São mais fragilizados? Sim, é verdade. Não tiveram instrumentos às vezes para se igualar ao contingente populacional que goza de privilégios? Tudo verdade. Mas o que ganhamos quando relativizamos a incompetência destas pessoas dentro do futebol?
Este é o ponto de reflexão.
É um assunto chato. Delicado. Mas quando o tema é o futebol e a cobertura jornalística sinto que estamos em plena confusão do que é posicionamento político e militância política. Consequência: ficamos cegos. Queremos proteger muitas vezes quem não merece proteção. Por que não merece? Por que é incompetente. Simples assim.
Passamos pano para quem toma um revés dentro do gramado, no banco de reservas ou nos gabinetes. Só por pertencer a grupo A ou B.
Determinados grupos não crescem ou evoluem porque as criticas maduras e corretas não são feitas.
É uma acomodação de interesses.
Imagina-se que criticar poderá abrir flanco para que o grupo defendido pelo jornalista fique fragilizado. Engano. É a ausência de uma avaliação justa e correta que abre o caminho para o abismo.
Repito:machismo, racismo, homofobia e todo cerceamento a evolução a determinados grupos é algo que deve ser combatido. Sem trégua.
Denúncia, enquadramento e prisão de criminosos e preconceituosos, sim! Paternalismo ou postura maternal jamais! Isso vale para o futebol como para a própria vida.
(Elias Aredes Junior com foto de Lucas Figueiredo-CBF)