Força, fraqueza, contradições do futebol e um dérbi à espera da Ponte Preta

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O futebol é incoerente. Contraditário. Sem sentido. Quem você pensa que está por baixo daqui a pouco canta vitória. Aqueles que estufam o peito, no minuto seguinte podem ser obrigados a assimilarem um golpe fortissimo. Todas essas características que flertam com a magia estão presentes nos grandes clássicos.

Entramos em uma semana de dérbi. O de número 203. E como o confronto está marcado para domingo, dia das mães, teremos uma semana inteira para discutir, falar e analisar. Especialmente quando o tema é Associação Atlética Ponte Preta.

A Macaca vive um turbilhão de sentimentos.

Em condições normais, a torcida pontepretana estaria de cabeça baixa e esperando pelo pior no encontro diante do seu eterno rival Guarani. Sim, porque se existe um efeito nefasto quando se vivencia um rebaixamento -qualquer um!- é a perda da confiança. É a destruição da autoestima.

Mais eis que em pouco tempo, uma sucessão de acontecimentos faz com que se produzisse uma esperança concreta, factível, real. Ou seja, de que a Alvinegra pode vencer o jogo e enterrar um passado recente nebuloso, cujo ápice foi a derrota por 3 a 0 para o Guarani no Paulistão e que decretou a saída do técnico Gilson Kleina e uma entrevista coletiva por parte do presidente Marco Antonio Eberlin, focada muito mais nas disputas políticas do que no rendimento decepcionante no gramado.

A Ponte Preta estava entregue. De guarda baixa. Sem alarde e trabalhando de modo incessante, o técnico Hélio dos Anjos tenta de todas as formas construir um novo rumo para a Macaca. E os sinais são positivos.

Com a obsessão de preservar os atletas, Hélio dos Najos fez trocas pontuais e certeiras. A insegurança de Ygor Vinhas abriu espaço para Caíque França, mais seguro e de reflexos apurados. Mesmo que tenha sido por força maior – o afastamento de Fabricio para cuidar do filho- a dupla de zaga formada por Thiago Oliveira e Fábio Sanchez tem um instinto de marcação muito mais aguçado do que se verificava no Paulistão. Norberto e Artur, laterais experientes e mais tarimbados, ficam muito mais focados em defender o espaço do que em atacar de modo inconsequente.

A guarda surpresa está reservada no meio-campo. Felipe Amaral e Léo Naldi, formados em casa, formam uma dupla com força e intensidade necessárias para quem deseja fazer uma campanha pelo menos mediana na Série B do Campeonato Brasileiro. Sim, Ramon no fundo é um improviso. Mas tem uma obediência tática que na atual conjuntura acrescenta e muito ao time pontepretano.

Só que esses jogadores não teriam utilidade nenhuma se não existisse conceitos básicos do futebol como ultrapassagens, atletas encarregados do desafogo, viradas de jogo nas imediações da área adversária e contra-ataques venenosos, geralmente a cargo de Danilo Gomes, que tem em Lucca um protagonista ideal.

Timaço? Time dos sonhos? Nada disso. A Ponte Preta é uma equipe em construção com a cara e o perfil da Ponte Preta. Uma equipe que se entrega, luta, batalha e fustiga o adversário os 90 minutos. E nem as derrotas, como contra o Vasco, fazem com que o perfil seja apagado no gramado.

Então quer dizer que a Ponte Preta é favorita para o dérbi? Nada disso. A tradução de todo esse cenário é que provavelmente a Alvinegra vai passar bem longe da zona de classificação. Vai frustrar o seu torcedor que queria um alento e o retorno a primeira divisão do futebol nacional após a campanha vexatória e decepcionante na Série A -1 do Campeonato Paulista.

Entretanto, é um time que agora está na trilha da dignidade e do respeito. Não entrará no Brinco de Ouro como um adversário prostrado e pronto para ser tripudiado. Certamente, aqueles que vestirem a camisa pontepretana serão  homens prontos para defender a honra e as cores de um clube que encara o clássico contra o seu principal rival não como um jogo de suma importância e sim um acontecimento pronto para lhe conceder honra, poder e glórioa. Essa é a Ponte Preta que o torcedor quer ver. E que jamais seja perdida de vista.

(Elias Aredes Junior com foto de Álvaro Júnior- Pontepress)