No futebol campineiro, o machismo ganha de goleada. Até quando?

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Alguns artigos deveriam vir acompanhado de um pedido de desculpas. Por serem repetitivos, enfadonhos e com cara de Deja Vu. Não tem jeito. O futebol brasileiro evolui a passo de tartaruga, costumes inadmissíveis estão enraizados e parece que não há saída. Um tema para comprovar tal cenário? O machismo no futebol.

Em Campinas, então nem se fala. Deixamos de ser a capital do futebol da década de 1970 para nos transformar em uma incubadora de machistas. Da pior espécie. Antes de você vociferar e argumentar que em outros lugares acontece a mesma coisa eu respondo para ti: meu foco é lugar onde moro e trabalho, a comunidade em que cresci. Cada luta no seu devido tempo.

O machismo em Campinas é pronunciado de diversas maneiras. Na cúpula diretiva (poder executivo) dos dois clubes, seja Ponte Preta ou Guarani não existe uma única mulher. Pergunto: será que em uma cidade de 1,1 milhão de habitantes não há registro de qualquer mulher capacitada para exercer uma função com poder de decisão? Registre-se que nenhum dos dois até hoje teve uma mulher como presidenta em suas fileiras. Vergonha, vergonha, vergonha.

No dia a dia do futebol campineiro, poucas mulheres estão integradas ao trabalho do departamento de futebol.Nas arquibancadas existem mais motivos de vergonha do que orgulho. Hoje, as mulheres se constituem em maioria nas arquibancadas do Brinco de Ouro e Majestoso, mas ainda são vítimas de xingamentos, assédio moral e sexual e toda sorte de agressão. Algo que apenas demonstra o atraso de uma cidade com cara de metrópole e mentalidade equiovocada em alguns temas.

A imprensa  não é isenta. Precisamos refletir. Pensar e verificar onde erramos. Temos os seguintes veículos de comunicação na cobertura dos clubes de Campinas: Rádios Central, Bandeirantes e CBN, o jornal Correio Popular, as emissoras EPTV, TVB Brasil, Band e VTV SBT, o portal Globo Esporte.Com e os sites Futebol Interior e este Só Derbi.

Desse total, apenas DUAS mulheres estão integradas: as competentíssimas Adriana Almeida, da Band e Adriana Giachini que escreve para este site. Renata Rondini, após excelente trabalho no Correio Popular não foi absorvida. Péssimo para o público e mercado.

Sou comentarista de futebol na Rádio Central. Com muito prazer, orgulho. Só que me incomoda saber que em mais de 50 anos de imprensa esportiva nunca tivemos nas rádios, televisões e jornais uma única mulher como comentarista titular. Quer declaração maior de machismo? Infelizmente, a imprensa apenas reflete a sociedade em que está inserida.

Se o quadro é tão grave por que não admitimos? Comodidade é a resposta. Reciclagem, melhoria e avanço demanda tempo, esforço e dedicação. Não só profissional, mas enquanto conceito de vida. Nós, homens, temos dificuldades em admitir que a igualdade é algo urgente para a construção de uma sociedade saudável. Nos outros espaços este quadro felizmente é de menor gravidade. O futebol vira uma bolha daquilo que achamos correto para o restante da sociedade. Abraçar o machismo de forma tacanha e até fanática é uma pequena parte da explicação das duas equipes não atenderem aos anseios dos seus torcedores.

Eu, como jornalista, comentarista e sei lá, cronistas só posso dizer: mulheres campineiras, peço perdão por sermos tão limitados e ogros no pior sentido da palavra; peço perdão por não reagirmos quando alguns bloqueiam o acesso a um lugar que é de direito de  vocês; Sem qualquer demagogia digo: que vocês sejam bem vindas ao futebol. Não somente como torcedoras, mas como médicas, nutricionistas, repórteres, comentaristas, narradoras, âncoras, dirigentes e qualquer função que estejam dispostas. Vamos virar este jogo.

(artigo escrito por Elias Aredes Junior)