Guarani e as duas opções para busca do sucesso: sorte ou trabalho? O que prevalece?

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O futebol oferece dois caminhos em busca do dinheiro e do sucesso: a sorte e o trabalho. O primeiro é caracterizado pela troca constante de treinadores, a busca alucinada por jogadores de seis em seis meses, e por em algumas vezes as arrancadas nas retas finais de competição que fazem com que o time alcance seu objetivo, seja a conquista de um titulo ou a fuga do rebaixamento.

O futebol brasileiro tem dois exemplos acabados deste modelo. Em 2002, o Santos terminou em oitavo lugar na fase inicial do Campeonato Brasileiro e no mata-mata gerou uma avalanche de vitórias que culminou com a conquista do título daquele time liderado pelo técnico Emerson Leão.

Sete anos depois, Cuca assumiu o Fluminense na reta final do Brasileiro e o rebaixamento parecia questão de tempo. Escapou na bacia das almas e no ano seguinte foi campeão nacional com Muricy Ramalho e dois anos depois com Abel Braga. Teve trabalho? Teve. Mas também uma boa dose de sorte.

Perceba que nestes dois exemplos isto não gerou uma reformulação de conceito e de trabalho que proporcionasse uma solidez que incrementasse a infra estrutura e incutisse uma filosofia de jogo. E tudo isso aconteceu porque estes clubes apostaram na sorte, no acaso, na conjunção dos astros para vencer.

As equipes que apostam no trabalho apostam na construção em longo prazo. Eles podem até nutrir o vício existente no futebol em relação a troca de técnicos, mas são fissurados na melhoria dos processos e da infra-estrutura. Não conseguem às vezes um bom resultado em curto prazo mas constróem uma filosofia que, quando se encontra o profissional correto, a potencialização dos recursos fica escancarada.

Não podemos deixar de mencionar o Athlético-PR, que hoje tem uma estrutura igualada aos grandes times europeus e vai disputar mais uma final de Copa Libertadores. O Flamengo ficou ainda mais gigante porque Eduardo Bandeira de Mello e seu grupo político pagaram o preço de escolher a racionalização de recursos e equação das dúvidas em médio e longo prazo. Rodolfo Landim, atual presidente, apenas colhe os frutos.

Desenvolvi todo esse raciocinío para dizer algo simples. Apesar de viabilizar um acordo com a Justiça Trabalho que construiu uma admirável estabilidade financeira, é inegavel que os atuais componentes do Conselho de Administração do Guarani escolheram o caminho da sorte para tocar o futebol profissional. Não existe uma política de clube orgânica, que defina o estabelecimento de médios de curto, médio e longo prazo. E se existe não há exposição a opinião pública.

O atual Conselho de Administração assumiu em setembro de 2019. Naquela época, a sorte se sobrepujou ao trabalho. Ou alguém poderia dizer e apostar que o auxiliar técnico Thiago Carpini poderia tirar o time da zona do rebaixamento após o Guarani somar 16 pontos no primeiro turno? Teve competência do Thiago Carpini? Teve. Muito. Mas em condições normais o tempo seria insuficiente para uma reação. Competência da Comissão Técnica. Bilhete premiado doado pelo destino ao Conselho de Administração.

No ano seguinte, o filme foi repetido. Thiago Carpini não conseguia mais extrair todo o potencial técnico do elenco e foi trocado por Ricardo Catalá, que também fracassou. Eis que vem Felipe Conceição e viabilizou a arrancada necessária para a manutenção. Novo bilhete premiado recebido de presente pelo Conselho de Administração.

No ano passado, sejamos sinceros: tinha tudo para dar errado. O elenco foi montado para jogar de uma certa maneira com Allan Aal. O técnico foi demitido após o Paulistão, Daniel Paulista chegou e com os mesmos jogadores levou a equipe a sexta posição. O trabalho de Daniel Paulista foi uma premiação inesperada para um Conselho de Administração sem uma filosofia definida.

Veio o ano de 2022 e talvez acreditaram que o trabalho de Daniel Paulista bastaria para um ano exitoso. Deu tudo errado. Desde então o Guarani vai em busca do bilhete premiado. Premiado com Marcelo Chamusca. Depois com a saída de Michel Alves e a chegada de Rodrigo Pastana e uma penca de reforços que tem apresentado soluções e problemas.

O tempo passa. O calendário avança. As rodadas são disputadas. O Guarani não avança na classificação. O bilhete premiado não aparece. O rebaixamento parece uma questão de trabalho. A ausência de convicção pela implantação de um trabalho com começo, meio e fim no Departamento de Futebol cobra a sua fatura.

Se apostasse no trabalho, na formulação de uma maneira de jogar, no aproveitamento continuoi e constante nas categorias de base, é bem provável que o sonho do acesso passasem bem longe do Brinco de Ouro, mas poderia viabilizar uma permanência digna.

Dessa vez, a sorte parece se recusar a sorrir para o Guarani. Ainda há tempo de reverter. Mas que seja com sangue, suor e trabalho. A sorte já mostrou que não tem fidelidade.

(Elias Aredes Junior com foto de Thomaz Marostegan-Guarani F.C)