Majestoso, 74 anos: um jeito único de ver, sentir e viver o futebol. E que nunca vai acabar!

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Em dois momentos de minha vida, o centro da cidade de Campinas esteve inserido na minha rotina. Nos dois anos em que estudei na escola estadual de Primeiro Grau Francisco Glicério e nos primeiros sete anos de serviços prestados no Sindicato dos Eletricitários.

Desde a adolescência, uma frase sempre escutava quando parava na banca do meu falecido tio Enoch, localizado ao lado do antigo Palácio da Justiça: “Ontem eu estive no Majestoso”.

Sempre era um torcedor da Ponte Preta e que alardeava com orgulho que não perdia um jogo sequer. Meu próprio tio, ás vezes, puxava a conversa e relembrava as horas em que passava no estádio.

A frase era comum para os pontepretanos. E o resultado nem importava. Em determinada circunstância era o que menos importava.

Interessava era reforçar os pequenos atos cotidianos de quem frequentava o local e que transformava a experiência em algo único. A chegada nos arredores do estádio é o primeiro passo. Quantos não paravam antes de romper o portão principal e compravam uma cerveja do ambulante e davam aquela golada antes de romper a catraca?

Ao chegar no estádio, o torcida da Ponte Preta tinha uma divisão involuntária em diversos grupos. Tinha aquele torcedor que pegava as duas mãos e grudava no alambrado. Seus olhos vidrados, fixavam a sua mente nos movimentos e nas decisões do árbitro e do bandeira. Gritos que pareciam inatingiveis no serviço ou até para discutir com o vizinho saiam quando a bola rolava. Também tinha aquele torcedor que praticamente não assistia ao jogo. Ele direcionava sua atenção para atazanar a torcida visitante.

Celular? Redes Sociais? Esqueça. Sentar na arquibancada do estádio Moisés Lucarelli é estar preparado para ser o 12º jogador. Voz, braços e movimentos para interferir em uma bola teimosa em querer cumprir o seu destino.

Quando a vitória acontece o torcedor sai com duas sensações: a primeira é de dever cumprido. A de que ele foi peça decisiva. A segunda é que não há como pensar em outro lugar para ver a Macaca jogar. Tem que ser no Majestoso. E com acolhimento, paixão, emoção e determinação.

Hoje o estádio Moisés Lucarelli completa 74 anos de existência. Este aniversário tem um sentido diferente. Tem o gosto da reconciliação, da retomada deste jeito de ser e de viver a Ponte Preta em seus jogos. Nada de refinamento ou aburguesamento de um clube popular. Nada disso. É povo na veia. Com dramaticidade e a dose de cumplicidade que o povão pede.

Tudo isso para o torcedor dizer no dia seguinte: “Ontem eu fui no Majestoso”. E foi bom. E inesquecível. Que seja assim nos próximos 74 anos. Parabéns Majestoso. Você merece. A torcida também.

(Elias Aredes Junior com foto de Diego Almeida-Pontepress)