Especial: eleições e o desprezo pela discussão da política esportiva

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Estamos a seis  dias do primeiro das eleições para Presidencia da República e também para governadores dos sete estados. Também vamos escolher senadores, deputados federais e estaduais.

Em um ambiente polarizado, controverso, em que o ódio prevalece sobre a paz e a harmonia, existem muitos derrotados. E entre eles está o Esporte.

Sim, mais uma vez o periodo eleitoral ignora a importância de discussão e aprofundamento de políticas esportivas integradas com a educação. Ou seja, esporte focado não no alto rendimento mas sim na utilização do esporte na formação no cárater e na indole do cidadão. Não existe qualquer discussão fomentada. Uma pena. 

Ninguém pode dizer que o mundo esportivo não liga para o assunto. Tanto que temos centenas de ex-esportistas, de todas as áreas ideológicas e que vão tentar a sorte nas urnas no dia 02 de outubro. Gente de ideário conservador ou liberal. 

Política esportiva que também já foi alvo de inquérito e denúncias de corrupção. Impossível esquecer que a Copa do Mundo de 2014 foi uma extensão das jornadas de junho de 2013. Uma parte da sociedade brasileira não se conformava com a realização da competição esportiva enquanto escolas e hospitais não eram viabilizados.

Em junho de 2014, o indice de aprovação da Copa do Mundo era de 51%. Ou seja, tínhamos um país dividido. Em 2016, às vésperas das Olímpiadas, a reprovação encontrava-se em 50% e outros 63% consideravam que a Olimpiada traria mais prejuízo do que lucro. Pesquisas precisas e corretas e que traziam um cenário exato dos humores da sociedade brasileira.

Nem isso foi discutido nas últimas duas eleições. Sequer falamos de uma Copa do Mundo que custou R$ 27 bilhões e dos Jogos Olimpiadas que ficaram em R$ 38 bilhões. Os eventos terminaram e ficou tudo por isso mesmo.

Se colocarmos o foco nas questões do cotidiano, a negligência sobre a discussão de como o esporte interfere em nossa vida, o quadro é pior. Basta dizer que ao se apurar os dados, computados a partir do Censo Escolar da Educação Básica 2020, o quadro é estarrecedor. O levantamento mostra que  de 135.263 escolas do ensino fundamental I ao médio, 47% não possui nenhuma instalação para a prática desportiva. Quando são consideradas apenas as quadras esportivas, esse número cai para apenas 45,1% dos estabelecimentos escolares.

O que é ruim pode ser pior.

O mesmo documento, trazido a tona pelo jornalista Demétrio Vechiolli, do Uol, no ano passado mostra que das escolas de educação básica do Brasil, só 40,6% têm tanto local de prática quanto materiais. Em 27% das escolas brasileiras o levantamento disse que não existe nem uma coisa nem outra.

Já exibi dados mais do que suficientes para comprovar a importância de que o esporte seja protagonista na discussão eleitoral.

Fica a pergunta: porque o tema não é discutido? Porque existe a impressão de que os candidatos egressos da seara esportiva muitas vezes estão muito focados em outros assuntos senão que não seja o próprio esporte?

Talvez um dos únicos de político que soube aproveitar do seu capital político gerado a partir das obras feitas e que produziam efeitos positivos foi o atual prefeito de Campinas, Dário Saadi, que viabilizou sua candidatura sendo secretário municipal de esportes da cidade. 

Repito a pergunta: por que o quadro não muda? A resposta é simples e poucos querem encarar. O jornalismo, em qualquer área, é o farol que determina aquilo que deve ser abordado e discutido na opinião pública.

Por maiores que sejam as audiências de sites, blogs e canais de You Tube, são os veiculos de imprensa tradicionais que geram a pauta e conduzem o debate. Basta verificar aquilo que é feito e divulgados por jornalistas atuantes no jornalismo ecônomico, político e você terá boa parte da resposta. 

E no jornalismo esportivo? Bem, quem se envereda pela seara da investigação jornalística na área esportiva é tachado de maldito. Ou mesmo desprezado. Dou um exemplo: é inadmissivel que um repórter do quilate de Lúcio de Castro, autor de denúncias fundamentadas contra o COB e CBV não esteja ligado a nenhum veículo de comunicação tradicional. E mesmo assim, o seu site, o Sportslight ainda produz terremotos na seara esportiva. 

A escolhas das empresas é pelo entretenimento, a falta de reflexão e a ausência de reporteres que investiguem e denuncie aquilo que é feito nos corredores do poder esportivo.

Ou jornalistas que cobrem dos poderes públicos uma resolução dos entraves que impedem que escolas e espaços públicos sejam o caminho para a prática esportiva saudável. Preferimos o riso fácil, a busca da audiência fácil e das resenhas que podem até produzir um sorriso ou outro mas inviabilizam aquilo que deveria ser a função do jornalista: a busca de melhoria da saúde. 

Que nas próximas eleições tal quadro seja mudado e que o esporte seja tratado como merece ser. 

(Elias Aredes Junior com foto de LR Moreira/Secom/TSE)