Especial: Quem aguenta tanto Ti Ti Ti na Ponte Preta?

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Penso que quem acompanha este espaço sabe como minha trajetória está ligada a tipicas manifestações culturais brasileiras, como os programas de auditório e as telenovela. Esta ultima soube como poucos traduzir nossos dramas, virtudes, defeitos, conflitos sociais e espelhar esse mosaico da sociedade brasileira. Também foi um catalisador para traduzir comportamentos inadequados e que muitas vezes passa batido.

Se você for meticuloso e atento vai chegar a conclusão sobre algo inequívoco: o futebol não escapa. Sim temos algumas novelas que tentaram traduzir o universo do futebol, como Vereda Tropical, de 1984 e principalmente Avenida Brasil, cujo um dos protagonistas era tufão, um ex-jogador de futebol interpretado por Murilo Benício. Outras novelas podem traduzir comportamentos que vemos em todos os ambientes.

Pegue como referência as duas versões da novela Ti ti ti. A primeira versão, transmitida em 1985, foi escrita por Cassiano Gabus Mendes e a segunda vez em 2010 por Maria Adelaide Amaral. Basicamente é um retrato de como fatores externos e internos podem corroer relações. A história conta a rivalidade profissional, familiar e afetiva entre André Spina (Reginaldo Faria e na segunda versão Alexandre Borges) e Ariclenes Martins (Luis Gustavo e Murilo Benício na segunda versão), ou Ari, como é chamado pelos mais próximos. Os dois eram amigos de infância e sempre brigaram muito e travaram incansáveis disputas pelas mesmas namoradas. O tempo passa, e Ariclenes não consegue se estabelecer profissionalmente, ao contrário de André, que se tornou um conceituado costureiro da sociedade paulista, conhecido como Jacques Léclair. Um dia os dois se reencontram e, motivado pela disputa com o inimigo de longa data, Ari entra no terreno profissional de André, acirrando a rivalidade entre os dois.

Fizeram duas versões desta história. E existe uma terceira em cartaz. Na Associação Atletica Ponte Preta.

Há 27 anos, as versões pontepretanas de Victor Valentim e Jacques Leclair eram amigos inseparáveis. Planejavam juntos o futebol da Ponte Preta, definiam contratações e faziam planos. Chegaram quase a alcançar o olímpo e parecia questão de tempo da sonhada taça.

Como entendido de futebol, o Jacques Le Clair do Majestoso encantava a todos com o seu conhecimento de futebol, sua astúcia em contratar e em revelar jogadores ao mesmo tempo que colecionava desafetos na mesma proporção. Ao contrário da novela, Victor Valentim dava as cartas e em determinado momento o amigo virou rival.

Como Valentim da novela, que utilizava uma senhora para fazer os modelitos para rivalizar com seu agora rival, o Valentim pontepretano utilizou vários costureiros (ou executivos de futebol) para tentar transformar a Ponte Preta em uma potência.

Gustavo Bueno, Marcus Vinicius, Ocimar Bolicenho…Tinha modelo para todo gosto e tipo. Nenhum deu certo. Por que? A clientela (ou melhor, o torcedor) tinha uma nostalgia pelo passado construído pelo Jacques Le Clair do Majestoso, que ficou afastado.

Assim como um homem fica cansado de uma gravata puída ou uma mulher não suporta um vestido mais concluído chegou um momento que o torcedor cansou de consumir um futebol brega e demodê. Queria mudança.

Novos rumos.

Uma roupa nova. Qual a opção à disposição? Aquele que outrora era o amigo inseparável de Victor Valentim.

Ele voltou. Suas palavras entraram como doce no coração do torcedor pontepretano. Promessa de novos tempos. O começo foi péssimo. Porque ser rebaixado para a Série A-2 do Campeonato Paulista é como deixar de frequentar uma loja de luxo a passar a frequentar um brechó.

Uma sabedoria aqui ou uma serenidade acolá foi possível voltar a frequentar lojas mais dignas no Shopping Center da bola.

Apesar do titular de plantão ainda insista, mesmo que indiretamente, como aquilo que era moda nas décadas de 1980 e 1990 ainda valia no Século 21. Ás vezes cabe. Outras não. Ele insiste que o atual e o antigo podem conviver. Mas por vezes a sua coleção exibida no gramado- leia-se time de futebol – pareça um pouco deslocada no tempo.

Enquanto isso, o torcedor, esse que deseja ficar nos trinques e comemorar a vitória do seu time só tem uma certeza: a de que está cansado de tanto Ti Ti Ti no seu time do coração.

(Elias Aredes Junior com foto de Foto: Rafael Ribeiro / CBF)