O futebol produz herois de acordo com seu tempo. Gente capaz de fazer a diferença dentro e fora do campo. Leônidas da Silva popularizou a bicicleta e foi o primeiro jogador a receber salários de acordo com seu talento. Zizinho foi o homem cerebral que conduziu esquadrões até o final da carreira. O título Paulista do São Paulo em 1957 tem a sua cara e alma.
Didi, conhecido como Principe Etíope, foi capaz de conduzir o Brasil a dois titulos mundiais. Mesmo que de maneira indireta, ele foi suporte para o surgimento de Pelé. Edson Arantes do Nascimento. O maior. O melhor. Insuperável. Capaz de parar guerras e receber a reverência de Reis e Rainhas. Ele saiu de campo e sua participação em campanhas em favor da infância, dos idosos e de outros setores marginalizados da população serviu de pano de fundo para mudar realidades.
Paulo César Caju era seu súdito. Um súdito provocador, inteligente, instigante, que não ficava em cima do muro. Roupas coloridas, cabelo black power, frases desafiadoras contra os dirigentes. Não ficava em cima do muro, assim como Cláudio Adão, que ousou ter talento e capacidade para lutar de peito contra tudo e todos.
Todos estas lendas do futebol brasileiro marcaram gols, conquistaram titulos e tiveram um inimigo em comum: o racismo. Uma chaga pronta para tentar destruir a população negra, que sofre dia após dia com as palavras, gestos e atitudes que visam diminuir um extrato da população que é 56% da população brasileira. Em todos os combates, o racismo enfrentado por esses ex-jogadores foi derrotado. Inapelavelmente. Eles ficaram maiores, gigantescos. Fincaram seu nome na história e exibiram as consequências e as feridas geradas pelo mal que atormenta há séculos e que deseja fazer novas vitimas.
O alvo atual é Vinicius Junior. Craque, talentoso, habilidoso e alegre, este jovem de 22 anos foi atrás do seu sonho de ser jogador de futebol. Inicio meteórico no Flamengo, venda concretizada ao Real Madrid. Após estadia no Real Madrid B, desembarcou ao time principal. Fez gols históricos. Conquistou títulos. Seu sucesso incomodou os racistas. A perseguição começou. Nas arquibancadas, nas ruas e nas redes sociais. Gritos para lhe prostar.
Na cabeça torta, vazia e maléfica do racista o negro não merece o sucesso. Não pode ser referência. Tem que ser diminuido, destruído, aniquilado. Ele tenta, busca e em todas as vezes é derrotado. Não será diferente dessa vez. Vinicius Junior prova o seu gigantismo. Utiliza as redes sociais não para ensinar dancinhas ou fazer frases de efeito. Luta de peito aberto contra o racismo e desafia o Status Quo do futebol espanhol. Desnuda a hipocrisia, a leniência e a omissão das autoridades espanholas em relação ao que ele sofre nos gramados . Seus discursos são fortes, coerentes, produtivos e assertivos. O medo não faz parte do seu repertório. Sabe que a covardia é a aliada do racismo. O temor tira a capacidade de resposta e de enfrentamento. Vinicius Junior riscou todas as palavras depreciativas do seu vocabulário e marca a cada dia um golaço a favor da cidadania. Destrói os racistas e seus aliados. Não se iluda: são muitos.
Vinicius Junior é o principal jogador brasileiro no futebol mundial. Por larga vantagem. Não é somente por aquilo que ele faz no gramado e sim pelo jogo que ele disputa e ganha contra o racismo.
Vinicius Junior honra o legado e a história de lendas do futebol brasileiro. Que foram campeões dentro e fora do campo. O craque do Real Madrid é sinônimo de tenacidade, determinação e de personalidade. Por que ele sabe que se os negros desistirem, eles, os racisas, vencem. E com Vinicius Junior certamente eles não vão vencer. Jamais.
(Elias Aredes Junior com foto de Antonio Villalba-Real Madrid)