Todo mundo tem um estilo. Em qualquer profissão. Todo trabalhador sonha em imprimir um estilo único. As obras de arte tem essa caracteristicas: nos transmitem lições e angulos que um simples mortal não conseguiria transmitir. No futebol, não é diferente. É preciso sentir os ventos de mudança.
Este é o principal mérito deste Guarani comandado por Umberto Louzer e que no domingo venceu o Tombense por 3 a 0 e fixou lugar no grupo de classificação.
Faltam ainda dez jogos.
São 30 pontos em disputa.
Cravar que o Alviverde vai subir ainda é um assunto que deve ser visto com cautela. O futebol é convincente, a produtividade é satisfatória mas um deslize e tudo desaba. Pode ser uma lesão, uma briga de vestiário, um desentendimento entre dirigente e comissão técnica. A vida é cheia de nuances e de armadilhas. Todo cuidado é pouco.
Tal diagnóstico não pode fazer com que ocorra uma perda da sensibilidade deste time do Guarani. Sabemos que não existem atletas virtuosos. Não há craques que no próprio ano vão jogar em ligas da Espanha e Inglaterra. Só que existem jogadores e profissionais sintonizados com o tempo atual do futebol.
O que pede o futebol de hoje? Velocidade e intensidade. É tomar a bola, encaminhá-la em tempo recorde no campo ofensivo, deslocar-se de modo alucinante para recebê-la e ser letal na conclusão. O que fazem João Victor, Bruno José Bruninho? Tudo isso e com um plus: dedicação para retornar ao campo de defesa e fechar os espaços.
A Série B requer força física? Então eis que aparece Derek, eficiente no pivô para o complemento dos companheiros e destemido para disputar a bola com os zagueiros adversários. É uma receita que tem o complemento de Bruno Mendes e Régis. Foram acionados nos últimos jogos nos minutos derradeiros e cumprem papel fundamental. Cadenciam o jogo e fazem a bola rolar sem pressa.
O futebol moderno pede volantes ousados? Eis que Matheus Barbosa já anotou gols importantes e quando o time tem a sua ausência, é a vez de Lucas Araújo e Matheus Bueno dividirem os papéis: um fica a frente dos zagueiros para marcar e o outro surge como elemento surpresa para inaugurar o placar contra o Tombense.
Tudo perfeito? Tudo pronto?
Nada disso.
O Guarani ainda sofre quando enfrenta adversários velozes porque os seus beques não estão no ritmo adequado ao desafio. Mas ao amenizar defeitos e extrair virtudes, Umberto Louzer transformou uma trajetória que tinha tudo para ficar alocada na zona intermediaria em uma aventura que pode desembocar na primeira divisão em 2024.
Que ninguém se iluda: os problemas continuam, a diretoria toma por vezes decisões equivocadas e o próprio elenco conta com jogadores limitados.
Tudo isso parece impossível de impedir o clima construido por Umberto Louzer e seus jogadores, que parecem encontrar-se sintonizados com o futebol atual e com a paixão da torcida bugrina, que não espera a hora de celebrar o que parecia impossível.
São 10 jogos.
Mais cinco vitórias e o acesso estará assegurado. Calma, esperança, fé e talento. Com essa receita, o estádio Brinco de Ouro tem tudo para viver um final feliz.
(Elias Aredes Junior com foto de Thomaz Marostegan-Guarani F.C)