
Na busca da informação correta, entrei em contato nesta semana com o presidente da Ponte Preta, Marco Antonio Eberlin. São ligações sazonais, mas em que aproveitamos para debatermos conceitos sobre futebol. E uma abordagem feitas por ele me levou a uma reflexão.
Hoje, a Macaca disputa a Série C do Campeonato Brasileiro e a tendência é que o clube feche o ano com um deficit de, no minimo, R$ 25 milhões. Ao contrário do que eu pensava, subir para a Série B, não vai resolver o problema. Pelo contrário. O dirigente disse que uma temporada na segundona nacional fará com que o patamar financeiro alcance um resultado negativo de R$ 20 milhões. Ou seja, ameniza, mas não resolve. E por quê? A cota de televisão da Série B para este ano ficou em R$ 8 milhões, com desconto de impostos. Na Série B? Uma cota mensal de R$ 180 mil mensais. Relatórios que mostram a situação financeira dos clubes comprovam que a cota de televisão é a maior fatia da receita de qualquer clube brasileiro.
Enquanto isso, Ponte Preta e o seu rival Guarani são obrigados a pagar jogadores com salário mensal acima de R$ 100 mil. A folha da Macaca era de R$ 1,4 milhão. A do Guarani passou certamente o patamar de R$ 800 mil mensais. Admita: a conta não fecha.
Só que se não fizerem isso, se não adotarem loucuras financeiras, não competem de igual para igual com os clubes. Só que isso gera uma tendência negativa, que é o aumento do endividamento ou a incapacidade de cumprir os compromissos financeiros. E dá -lhe ações na Justiça, em que advogados lucram com honorários, jogadores às vezes ganham até mais do reivindicam e o clube se afunda ainda mais.
Ao deparar-me com essa reflexão do dirigente pontepretano, lembrei dos anos de 2015, 2016 e 2017. A Ponte Preta montou times caros e ao cair não conseguiu honrar diversos compromissos de rescisão que acabaram na Justiça Trabalhista. Tudo isso sendo honrado com um orçamento menor e em campeonatos de menor visibilidade. A conta não fecha.
Nunca escondi de ninguém minhas reservas em relação às SAF´s. Penso que cada caso precisa ser analisado em separado. Cada clube tem seu perfil. Vou mais longe: no ano passado, os clubes da Série A do Brasileiro faturaram R$ 10 bilhões. Embalados com patrocínio de Bet´s e novos contratos de televisão. Como isso estará daqui a cinco, dez anos? Seja associação sem fins lucrativos ou SAF, o dinheiro disponível no mercado será o mesmo.
Sim, porque a euforia vai passar e as despesas serão as mesmas. E os recursos vão escassear. Exemplo: hoje, para aderir a uma das ligas existentes, a Libra e a Forte União, muitos clubes ganharam luvas ou adiantamento de contratos. Que nos próximos anos não vão existir. Como gerar receitas em um pais com receitas finitas como o Brasil?
Vou além: como Ponte Preta e Guarani vão sobreviver nesta selva de pedra? Se o orçamento da Ponte Preta é finito, mesmo se um dia voltar para a divisão de elite, como honrar salários de R$ 300 mil, R$ 400 mil por mês? Isso é factível? É lógico? Deixo para você a reflexão.
No mundo ideal, os salários pagos no Brinco de Ouro e no Moisés Lucarelli seriam mais baixos e metade dos elencos seriam completados com as categorias de base. Pergunto: qual foi o último jogador de linha, de ponta, revelado pelo futebol campineiro capaz de viabilizar uma arrecadação vultosa? No Guarani, só lembro de Jonas. Na Ponte Preta, Luis Fabiano. No restante do tempo, só jogadores de qualidade técnica boa ou mediana. Para buscar qualidade, é preciso colocar a mão no bolso. Que está furado.
No atual quadro, se em uma perspectiva otimista, os dois clubes campineiros subirem para a Série B, o máximo que vislumbro é, no máximo, zona intermédiaria na classificação para as duas agremiações. Dois times com intensa rivalidade, mas com parca estrutura e com o bolso furado ou com cheque especial estourado. Mas que para não desaparecerem são obrigados a se endividarem cada vez mais. Dividas que levam a um quadro caótico nas finanças e impede um crescimento sustentável em curto médio e longo prazo. Como sair dessa armadilha? Essa é a pergunta que precisa ser respondida nos próximos nos dois estádios campineiros que abrigam clubes centenários.
(Elias Aredes Junior- Foto de Joédson Alves/Agência Brasil)