No dia Internacional da Mulher, uma obrigação de torcedores bugrinos e pontepretanos: um pedido de desculpas dirigido às mulheres pelo machismo impregnado no futebol!

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Maria levanta. Cuida dos filhos. Trabalha. Dá atenção ao marido. Planeja o futuro. Fica de olho na saúde dos pais idosos. Transmite carinho aos parentes. Abraça os amigos. Festeja a vida. Supera obstáculos. Levanta os braços a cada final de dia. Venceu. Para no dia seguinte disputar novamente o jogo da vida.

O nome dela é Maria. Poderia ser Débora, Adriana, Renata, Eunice, Cláudia, Andréa, Patricia, Kátia, Rita, Priscila. Mulheres. De múltiplas funções e talentos. Predestinadas ao amor. Infinito. Sem amarras. Apesar do preconceito. Do machismo. Da exclusão implícita imposta pela sociedade.

Um fantasma presente no futebol. Quantas bugrinas e pontepretanas com diversas histórias, nomes e trajetórias são obrigadas a abrir mão de seu amor alviverde ou preto e branco em nome da família ou do amor incondicional aos filhos,  marido, namorado, companheiro, amigo?

Homens são privilegiados. Aos domingos e quartas-feiras podem abandonar seus lares, embrenhar-se em arquibancadas sujas e desconfortáveis em nome do amor a um escudo. Ou na quadra ou campo mais próximo de casa.

Algumas mulheres participam do processo, é verdade. Um número que cresce a cada dia. Só que sentar na arquibancada para elas tem um sentido diferente do que para um homem. Elas são vitimas de assédio, xingamentos ou atos para lhe deixarem em situação desconfortável.

“Aqui não é o seu lugar”.

É a frase estampada na cara de alguns. Uma declaração machista que ecoa na alma e destrói o coração. Que tem um time. No fundo, não pode alimentar a paixão. Consequência de homens desprovidos de sensibilidade. Para eles, as mulheres no futebol são apenas o que são uma bola, a rede ou uma toalha esticada no vestiário: objetos. Nojento. Repugnante.

Este preconceito corrosivo e destrutivo bloqueia experiências únicas. Uma presidenta na Ponte Preta ou no Guarani? Um sonho distante. Uma diretora de futebol? Impossível. E as comentaristas de rádio ou televisão? Onde estão? Nós sabemos. Do lado de fora. Desprezadas. Cerceadas. Bloqueadas.

Vítimas de um futebol machista, preconceituoso, exclusivista e sem coragem de abrir as portas. Não só na arquibancada. Na linha de frente. Com capacidade de mudar a história, o rumo de uma cidade de 1,1 milhão de habitantes e presos a estigmas e cadeados do passado.

Neste dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, nós do portal Só Dérbi, não queremos somente enfatizar que esta é uma data de luta e reflexão.

Não desejamos ficar na constatação das atrocidades cometidas contra as mulheres que amam e apreciam dois patrimônios do futebol brasileiro.

Bugrinos e pontepretanos, cronistas esportivos, dirigentes e jogadores deveriam pronunciar uma única sentença: Desculpas pelas nossas falhas e atos violentos.  Desculpas por tirar o futebol de você, mulher e querer como patrimônio exclusivo nosso. Desculpas por utilizarmos a arquibancada como arena de machismo e atos obscenos.

Deixaremos a vaidade e a arrogância de lado e  abriremos a porta do mundo mágico do futebol para que vocês, mulheres, possam desfrutar. Sem restrição.

O retorno do futebol campineiro aos tempos de glória depende de todos.

Sem a participação efetiva das mulheres a obra será incompleta.

(análise feita por Elias Aredes Junior)