Ideias transformam o mundo. Homens colocam em prática. Deveria ser assim. É o correto. Não é.
Vivemos uma época de pobreza intelectual.
Em todas as áreas. Indistintamente. Reclamamos dos políticos porque eles produzem factoides.
No fundo, gostamos. Apreciamos. Esperamos pelo próximo. A satisfação artificial acima de tudo.
JK transformou o Brasil com 100 anos em 5. Getúlio deixou um legado de leis trabalhistas. O que receberam em troca? Cobranças, injustiças. O tempo trouxe a tona o que interessava: os frutos permanecem.
Tempos que ficaram para atrás. Tudo é oco, artificial, pobre, raso.
Não há renovação. Tudo é aparência.
O parecer acima do ser. É a cantora que canta na base do play back. É a atriz de belas feições incapaz de encarar um palco de teatro. Pouco vale. Ninguém quer conteúdo. Quer embalagem. Demagogia. Populismo.
Nenhuma área escapa. Trabalhei neste domingo no estádio Moisés Lucarelli. Jogo gigante: Ponte Preta x Corinthians. Transmissão para o Brasil inteiro.
Empate por 1 a 1. Entrevistas coletivas concorridas.
Acompanhei do técnico da Ponte Preta. Sua marca deveria ser a explicação porque deixou a vitória escapar. Erro do juiz? Sim, mas apesar de atuar 75 minutos em bom nível, o ponto quase escapou.
O domínio corinthiano, apesar de estéreo nos minutos derradeiros, ameaçou. Nada disso. O fato foi o “Pai Nosso” puxado pelo próprio treinador. Depois disse: “Ponte Preta não precisa de treinador”
Tive sim sentimento de revolta. Fui ensinado em uma família de Cristãos Evangélicos que o relacionamento com Deus é algo profundo, intimo e ainda: não pode gerar escândalo e nem publicidade pessoal.
Este é o ponto: um discurso recheado de palavras messiânicas. Ato contínuo, os defensores aparecem: é demonstração de fé, é criativo, etc. Revolta aumentou. Subiu a níveis estratosféricos.
Percebi: estava sozinho. Alguns celebravam. Gostavam. Comemoravam. Do mesmo jeito que uma criança quando recebe uma embalagem bonita. Mesmo se o conteúdo estiver vazio.
Importa apreciar a embalagem. O Guarani não escapa deste fenômeno. Dirigentes loucos por factóides e por frases de efeito. Dura realidade.
Lembrei-me dos tempos dourados do futebol de Campinas. Na vitória ou na derrota. Cilinho, Zé Duarte, Ênio Andrade, Cláudio Duarte, Jair Picerni…Diante do microfone ninguém puxava reza. Ninguém demonstrava fanatismo. Faziam algo único: explicavam, discutiam, debatiam futebol. Conteúdo.
Começo, meio e fim. Ninguém enaltecia se o treinador era camarada, amigo ou se era companhia agradável. Treinador era treinador. Ponto.
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Saudosismo? Romantismo?
Nada disso. Todos negam, mas no fundo, no fundo, ninguém quer aprofundar. Ninguém deseja conhecimento.
No mundo do futebol e em outras áreas da vida nacional, Livros são desprezíveis. Conhecimento em segundo plano. Ou em plano nenhum Aqui ou em qualquer lugar.
Dinheiro, dinheiro, dinheiro. E poder. Tudo vazio, estéreo, artificial. O que vivi no domingo no Estádio Moisés Lucarelli é um microcosmo do Brasil. Cobramos os políticos de modo feroz. No fundo, nem devíamos. Somos cafonas, bregas, vazios, sem rumo.
Só queremos a embalagem. Nem que a sopro de ar ao abrir a caixa tenha um odor fétido. No jogo da vida, o conhecimento é empecilho. Dá trabalho. Ser tosco é muito melhor.
(análise feita por Elias Aredes Junior)