Dois jogos, duas vitórias. Ambas na casa do adversário. Guarani e Ponte Preta começaram com o pé direito as gestões de Osvaldo Alvarez e de Gilson Kleina no banco de reservas.
Profissionais que recebem criticas por motivos distintos. Os detratores de Vadão lhe consideram um profissional ultrapassado, retranqueiro e focado apenas na parte emocional. Tem cinco passagens no Brinco de Ouro e não tem títulos. O máximo são os vices campeonatos na Série B em 2009 e do Campeonato Paulista de 2012. Pela lógica, não deveria receber um carinho sequer parecido com Zé Duarte ou Carlos Alberto Silva.
Gilson Kleina não fica atrás na luta contra os opositores. Não desembarcou antes por força de várias alas contrárias na torcida e diretoria. Seu esquema com três volantes, a ênfase no poder de marcação e a preferência pela utilização de um atacante de referência não tem adeptos apaixonados. Sem contar que desde a sua saída da Ponte Preta, o máximo que conseguiu foi um titulo de Série B com o Palmeiras em 2013. Que passou para a posteridade como pura obrigação.
Com tantos defeitos enumerados para um e outro profissional, o que encanta em Vadão e Gilson Kleina? Por que eles são capazes de desanuviarem o ambiente com um toque de mágica? Qual o segredo?
Simples como água: porque ambos tratam o interlocutor como seres humanos, que merecem respeito e consideração, um carinho e uma deferência que encanta e traz frutos nestes tempos.
Vivemos uma era de ódio. Ódio pelo semelhante e a pregação de discurso de violência sem medir as consequências. O futebol não é imune a isto.
Repórteres no seu dia a dia, seja no Majestoso ou no Brinco de Ouro, são tratados de modo inadequado por alguns dirigentes. Consideram que eles, os dirigentes, são detentores da razão e que não devem prestar contas aos repórteres e a opinião pública. O sumiço é a estratégia preferida. Exemplo prático: Vanderlei Pereira só dá entrevista quando é empurrado pelos acontecimentos e no Guarani, a crise gerada pelas saídas de Ney da Matta e Maurício Barbieri gerou um silêncio inexplicável em Marcus Vinícius Beck Lima. Queiram ou não, tal atitude arrebenta o relacionamento diário com os repórteres. Que no final das contas são trabalhadores do setor de comunicação.
Mais: as redes sociais se transformaram em terra de destruição de reputação e de relacionamentos. Elogiar ou criticar a diretoria, jogadores ou técnico virou motivo de insulto e de reações desmedidas, fora de qualquer padrão. O que justifica você criticar ou elogiar A ou B receber em troca, ao invés de um argumento, uma avaliação de que é um “retardado” ou “inútil”? Nada justifica.
Mas eis que aparecem dois profissionais em um esporte de ambiente inóspito como o futebol e além de trabalharem de maneira honesta encaram as críticas de modo sereno; tratam repórteres e profissionais do clube no cotidiano com dignidade, educação e deferência; escutam argumentos com atenção e mesmo se ocorre a discordância, tudo é feito em alto nível, sem agressões verbais. Ou seja, Gilson Kleina e Osvaldo Alvarez não se portam como deuses portadores da arrogância e sim como seres humanos.
Vão errar? Sim. E muito. Serão submetidos a roda viva do futebol. São mocinhos hoje e podem virar vilões amanhã. Podem ser jogados no tribunal da internet, que condena sem ouvir a defesa. Independente disso, dá para cravar: o futebol campineiro está servido de gente que vive o futebol mas respeita o semelhante. Não é pouco.
(análise feita por Elias Aredes Junior)