Como uma conquista pontepretana poderá afetar uma rivalidade histórica? Antes de surtar, leia com ponderação!

1
1.745 views

Existe um clima de tensão nas redes sociais e nas arquibancadas. O torcedor pontepretano conta as horas para a decisão contra o Palmeiras. O bugrino também. Apesar de querer transmitir indiferença, não existe um único adepto do Guarani sem pensar na possibilidade de ver o rival erguer uma taça relevante após 117 anos. Fogos de artificio estão estocados e serão acionados em caso de tropeço no Allianz Park. A falta de coragem e a obsessão de parte da sociedade de querer abraçar o politicamente correto e fugir de temas espinhosos tira de pauta uma pergunta central: a Ponte Preta campeã seria tão ruim assim ao Guarani?

Antes de argumentar, um aviso: este convite à reflexão não é para fanáticos e apaixonados inconsequentes, incapazes de ver pontos positivos e negativos. É, antes de tudo, uma convocação a racionalidade. A busca para fazer o futebol campineiro voltar a ser analisado de modo conjunto e com a rivalidade sendo motor para rentabilidade, dinheiro, riqueza e projeção.

Desde 1997, a Ponte Preta é administrada pelo grupo político do empresário Sérgio Carnielli. O clube foi tirado de um pré-estado falimentar, dividas trabalhistas foram quitadas e times competentes foram montados. Semifinais da Copa do Brasil e do Paulistão de 2001, vice-campeonato paulista de 2008, os acessos à divisão de elite nacional em 2011 e 2014 são provas de evolução. Sim, erros aconteceram e este Só Dérbi cansou de registrar. Equívocos em contratações, falta de comunicação com a torcida, flerte com a elitização, extermínio da oposição…não faltam tropeços. Os avanços foram registrados. Fato.

O que acontecia no Guarani? Uma guerra política fraticida, com grupos saindo do clube aos borbotões e parte da torcida se contentando com pequenas vitórias construídas muito mais no valor pessoal do que pela estrutura. Vide os acessos na Série C em 2008 e 2016, na Série B de 2009, na Série A-2 em 2007 e 2011 e o vice-campeonato paulista de 2012. Vadão, Carbone, Luciano Dias eram citados como heróis isolados enquanto que a estrutura descia ladeira abaixo.

O Centro de Treinamento era sucateado, a estrutura do departamento de futebol padecia a olhos vistos e o estádio Brinco de Ouro ficava aquém do normal. O destino  colaborou com a chegada da Seleção da Nigéria em 2014 e que proporcionou a reforma do gramado e dos vestiários. O primeiro item, no entanto, parece caminhar no rumo da depreciação.

Reconheço o esforço de vários bugrinos para acabar com tal quadro desolador. Verifico a racionalidade presente. Só que no final das contas o que de verdade contentava o torcedor bugrino? A seca de títulos do rival. É um álibi, uma cortina de fumaça para aplacar a dor por anos e anos de rebaixamentos, decepções e desmandos. Isso precisa acabar.

Aviso: ninguém é louco de ignorar a rivalidade como ingrediente do futebol. É fundamental. A razão de viver e o oxigênio que renova as arquibancadas. Só não pode ser o único requisito. De tanto agarrar-se ao passado de glórias em 1978 e 1981 (que devem ser reverenciado sempre!), bugrinos ficaram reféns do presente, em que apenas e tão somente tirar sarro do eterno rival virou um prêmio de calmaria na selva chamada futebol. Nem que se pague o preço de ver o clube definhar a olhos vistos.

Dada a contextualização, vamos para a pergunta de um milhão de dólares: e se a Ponte Preta for campeã? Como será o day after? Que a cidade de Campinas verá um carnaval nunca visto neste século não tenho dúvida. O torcedor pontepretano sentirá um gosto de liberdade e regozijo nunca visto.

Quanto ao torcedor bugrino existem duas alternativas. A primeira é a instalação de um clima depressivo, de inconformidade pela perda do principal motivo de gozação do rival.

Prefiro apostar no segundo cenário: a torcida do Guarani acordaria em definitivo e passaria a patrocinar uma pressão sem precedentes sobre a diretoria. Uma exigência não só pela montagem de times competitivos e disputa de títulos, mas pela obrigação de viabilizar a montagem de uma estrutura a altura da história do clube.Até antes de aplicação da sentença judicial que obriga o empresário Roberto Graziano a colocar a mão no bolso. Traduzindo: um Centro de Treinamento moderno e um estádio de acordo com as exigências do Século 21. E sair das páginas do noticiário judicial para se fixar nas esportivas.

O Palmeiras pode ganhar e adiar o sonho pontepretano. Ou a Macaca chegar a final e vacilar. Nem assim a reflexão é inválida. Um requisito básico foi esquecido em Campinas: sem concorrência não existe evolução. E para quem conhece a história do futebol campineiro, o atraso de qualquer lado do pêndulo gera prejuízo. Não é diferente agora em que a Ponte Preta  colhe os frutos de seus passos e o Guarani patina. É preciso acelerar. Porque o futebol exige coragem. Até para admitir a importância do rival.

(análise feita por Elias Aredes Junior)