Diretoria pontepretana falou demais. Agora paga o preço

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Impossível ignorar o trabalho feito pela Ponte Preta no ano passado. As apostas foram acertadas, o time em nenhum momento lutou contra o rebaixamento no Brasileirão e ganhou a respeitabilidade dos grandes do futebol brasileiro. Não é pouco.

Duro é constatar que o patrimônio construído esvaiu-se como pó após as derrotas no Paulistão para Oeste e Santos. A Macaca agora tem obrigação de ganhar ou pelo menos empatar com bom rendimento diante do Linense, nesta quarta-feira, na casa do adversário. Caso contrário, Vinicius Eutrópio terá que dar explicações além do normal.

Neste mundo louco da bola, fica a indagação: qual foi o marco zero da crise? O que aconteceu para tudo desmoronar? Digo que um dos motivos é que os dirigentes da Ponte Preta deixaram de lado uma das características positivas do ano passado: a cautela e a consciência do potencial.

Com Guto Ferreira no comando, não existiam promessas. A prioridade era trabalhar e se possível sonhar, conforme as oportunidades surgissem no campeonato. Sensato. Correto. Pé no chão.

Mas a mosca da ansiedade picou os dirigentes pontepretanos. Pelo menos por duas vezes as declarações fomentaram ainda mais uma expectativa que não tem garantia nenhuma de virar realidade. Por enquanto.

Ambas as declarações são encontradas estão no site oficial do clube. A primeira declaração é do presidente Vanderlei Pereira sobre a projeção do ano de 2016 e a participação no Paulistão: “(…) Então já vamos entrar no Paulista do ano que vem pra brigar para ser campeão, vamos disputar o título. Estamos montando um bom time, seguindo o modelo que vem dando certo, de observar criteriosamente atletas com bom potencial para crescerem aqui na Ponte e trazer estes jogadores, montando um bom time. No ano passado, por exemplo, muita gente nem tinha ouvido falar de Biro Biro, Pablo, Renato Chaves, Diego Oliveira… atletas que vieram e fizeram a diferença (…) Enfim, estamos trazendo bons nomes e, se hoje já somos claramente a quinta força do Estado de São Paulo, queremos ir além. Vamos fazer uma pré-temporada caprichada (…)”. ( entrevista concedida ao site oficial do clube no dia 18 de dezembro de 2015)

Quase um mês depois, quando algumas contratações já traziam insatisfação a torcida, o gerente de futebol, Gustavo Bueno, declarou: “A Ponte Preta hoje é uma das grandes forças do estado e o nosso principal objetivo é brigar pelo título do Campeonato Paulista. Sabemos das dificuldades do torneio, mas entramos para brigar. Infelizmente alguns atletas importantes saíram, mas nós mantivemos a base e repomos. Por exemplo, saiu o Biro Biro e repusemos com o Rhayner, a mesma coisa com o Rodinei e o Nino Paraíba, o Wellington Paulista para o lugar do Borges. Acreditamos que esse elenco nos dá totais condições de brigar pelo título no Paulista.” (declaração dada durante entrevista coletiva e registrada no site oficial do clube no dia 20 de janeiro.

Então os dirigentes deveriam falar que o time entraria para perder no Paulistão? Que lutaria contra o rebaixamento? Nada disso. O problema é que a promessa não corresponde a realidade das contratações realizadas posteriormente.

Para ficar em um exemplo: quando chegou, em meados de 2013, Fernando Bob já era uma realidade, apesar dos altos e baixos. Eurico e Renato, contratados, até tem potencial técnico, mas não apresentaram o mesmo cartão de visitas em clubes anteriores. Pergunta: como nutrir expectativas iguais para jogadores com perfis tão diferentes?

Mais: se as contratações estavam definidas há tempos como acreditar que eles têm condições de encarar as potências São Paulo, Palmeiras, Corinthians e Santos?

Pois é. Os dirigentes da Ponte Preta já acertaram. Cansaram de adotar medidas acertadas. Deveriam aprender que qualquer declaração não é um ato vão. É estabelecimento de compromisso. Especialmente com uma torcida carente e sedenta por novos horizontes.

(texto e reportagem: Elias Aredes Junior)