Um milagre: a diretoria executiva da Ponte Preta descobriu que o pobre pode ajudar a pagar a conta

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Ao conduzir uma análise rasa e superficial, a tarefa mais fácil é encher de elogios a diretoria executiva da Ponte Preta por ter alterado radicalmente o modo de funcionamento do programa de Sócio Torcedor. Agora, uma mensalidade de R$ 39,90 fará com que o integrante do programa tenha acesso a todos os jogos do Majestoso.

Não há como discordar da matemática favorável: se dois jogos ocorrerem em Campinas por mês, o valor médio do tíquete fica em R$ 20. A porta fica acessível em tempos de desemprego e crise econômica. Um associado, por exemplo, que paga aproximadamente R$ 240 para ele e três pessoas da mesma família agora terá o seu valor reduzido para R$ 160 fora as vantagens.

Sem contar a facilidade de entrada em que até o celular deverá ser utilizado. Então todos os dirigentes devem subir no pedestal e receber uma salva de palmas infinitas? Não é bem assim. Infelizmente, a maioria dos componentes da direção pontepretana ainda continua com viés elitista. Mantém um foco distorcido sobre o que é e o que pretende a torcida pontepretana.

A mudança de posição não aconteceu por convicção sobre a visão do publico consumidor para o qual o time trabalha. Ou seja, a maioria da minha torcida é pobre, vive em más condições e então eu preciso detonar uma série de projetos e preceitos que façam com que o torcedor apareça no estádio. Se fosse assim, a promoção teria sido efetivada não agora e sim há dois ou três anos.

Nos últimos anos, tal cenário esteve longe de acontecer. O que fez a diretoria foi radicalizar no preço exacerbado nas promoções e sazonalmente fazer promoções para atrair o torcedor pobre ao estádio foi o cofre vazio e os déficits seguidos nos jogos. Se o Majestoso estivesse com 50% ou 60% de taxa de ocupação nos jogos – em torno de 10 mil pagantes – tenho sérias dúvidas se os pobres e aqueles sem poder financeiro fossem lembrados com tanto carinho.

A verdade é que os torcedores pontepretanos das classes A e B são insuficientes para pagar a conta dos custos de uma partida. E não estão dispostos a desembolsar mais dinheiro para deixar tudo em dia.

Por que o torcedor pobre foi esquecido durante todo este tempo ou não foi tratado como prioridade? Neste caso invadimos social existente no Brasil. Salvo alguns exemplos que devem ser ovacionados e elogiados a elite empresarial e de profissionais liberais brasileira não tem a mínima empatia com o sofrimento das classes mais baixas. É algo de formação.

Reafirmo: não existe maldade nesta postura. Foram criados para acreditarem nisso, ou seja, se os meus parceiros de classe social estiverem satisfeitos, ótimo. Como esta mesma elite comanda  clubes de futebol, o conceito é transportado. Só como exemplo: veja como os torcedores de baixa renda são tratados pelas ultimas diretorias de Corinthians e Palmeiras, especialmente após as inaugurações das arenas e saberá do que falo.

A diferença é que tanto corinthianos como palmeirenses podem até dar uma banana para os torcedores das classes C, D e E diante do vasto espectro de público elitizado que têm a disposição.

A Ponte Preta não pode. Em uma cidade com 1,1 milhão de habitantes e uma região metropolitana com mais de 3,3 milhões de moradores, é um tiro no pé um clube abrir mão deste contingente quando enfrenta a concorrência pesada dos times europeus e do próprio Corinthians para ganhar mercado.

Neste contexto, trazer o torcedor pobre para o Majestoso não é luxo. É necessidade. Ainda bem que o bolso vazio acordou a diretoria pontepretana para algo tão óbvio. Que continue assim.

(análise feita por Elias Aredes Junior)