O inimigo do futebol campineiro: a república dos Puxa-Sacos

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Em sua última entrevista coletiva, o presidente da Ponte Preta, Vanderlei Pereira decidiu abrir os números. Relatou a cota de televisão R$ 28,8 milhões livres, os patrocínios de R$ 1,8 milhão (dividido por duas empresas), a cota do Campeonato Paulista e outras fontes de receita. Descreveu o pagamento de impostos e de encargos como obrigações tributárias a serem executadas.

Tudo isso com o objetivo de querer transmitir ao distinto público de que a Macaca vai além de suas possibilidades. Opera um verdadeiro milagre ao jogar o Campeonato Brasileiro, a Copa Sul-Americana, contar com um time competitivo e ainda deixar as contas em dia. Ele pode até estar certo de sua posição. E está. O que não é aceitável é utilizar este argumento para acabar com toda e qualquer crítica.

Este Só Dérbi tem na sua equipe a disposição de praticar um jornalismo crítico e independente. E este jornalista chegou a conclusão que Campinas ainda tem sérias dificuldades de encarar tal disposição. Tanto no Guarani como na Ponte Preta.

O Guarani falido, arrebentado, com um Conselho Deliberativo inócuo e sem poder de fiscalização e a disposição de muitos torcedores bugrinos é transmitir a sensação de que está tudo bem. Que o Guarani virou o Barcelona, uma potência pronta a ganhar o mundo. Uma visão distorcida tanto de alguns colegas de imprensa como das arquibancadas. Detalhe vital: a Rádio Central, local em que trabalho, tem uma equipe também disposta a ser crítica e independente. E colhe os frutos desta postura.

Mas não interessa para uma parte da torcida, diretoria e até de formadores de opinião. O que interessa é instituir a “República dos Puxa-Sacos (RPS)”.

República esta com forte aceitação na Ponte Preta. A cada texto crítico no Só Dérbi e a cada comentário meu na Rádio Central ou de outros companheiros de profissão, vem a tentativa de constrangimento: Sérgio Carnielli não pode ser criticado, fez muito pela Ponte Preta, ele só ajuda, etc, etc. O caso típico é da camisa oficial. Desculpem, não adianta enrolar. O estatuto diz uma coisa e a diretoria faz outra. Não importa. A República dos Puxa-Sacos quer impor sua visão doce e cordial. Seja no Brinco de Ouro como no Moisés Lucarelli. É proibido criticar. É bloqueado apontar erros e equívocos. No fundo, no fundo, mostra que cada um tem um espírito ditadorial dentro de si. A diferença é que alguns são sábios o suficiente para verificar na democracia e na circulação de ideias o caminho de uma sociedade saudável.

A RPS quer deitar e rolar. E evitar uma pergunta vital: o que trouxe de saldo essa alienação? Respeito quem enumera a chegada em finais da atual diretoria da Ponte Preta. Mas estes mesmos dirigentes e seu grupo deixaram a Alvinegra por cinco temporadas na segunda divisão do Brasileirão, protagonizaram períodos (curtos é verdade) de atrasos de salário e não tratou de melhorar a infra-estrutura.

Sim, graças a Copa do Mundo de 2014 o CT do Jardim Eulina está melhor do que era. Mas em comparação com clubes como Atlético-PR, Goiás, Criciúma ou Ceará é deficiente. Deixa a desejar. Por que a república dos puxa-sacos não olha estes pontos? Por que encarar a realidade dói muito mais.

Assim como no Guarani. Atrasos de salários, anos e anos na Série C, na Série A-2 e a RPS conseguiu incutir na mente do torcedor bugrino que não se pode criticar porque ele já está muito machucado. É como querer tratar diabetes com uma colher diária de açúçar. Uma hora a fatura vem.

O que dirigentes e torcedores precisam entender é que alguns problemas por vezes são gerados por contingentes que estão fora do nosso alcance e outros não. Exemplo: um trabalhador que perde o emprego, tem sua renda diminuída e não consegue dar conta de suas obrigações e contas do passado não pode ser colocado na cruz. Assim como um clube que as vezes tem imprevistos orçamentários que fogem ao controle.

Agora, falhas e equívocos frutos de incompetência e decisões equivocadas podem e devem ser apontadas. Para que ocorra a reflexão e futura correção. Atender ao pedido irrestrito da RPS pode até gerar alívio no presente mas constrói um abismo para o futuro.

(análise feita por Elias Aredes Junior)