Na semana passada, afirmei nos microfones da Rádio Central o favoritismo do Figueirense no duelo contra o Guarani. Vitória bugrina por 2 a 0 e ouvintes e internautas derramaram críticas sobre este que vos fala. De um jeito ou de outro, preferi adotar uma postura mais distante, sem entrar em conflito profundo. Esse gesto demonstra duas faces: a carência das arquibancadas por boas noticias e a ausência de coragem para encarar a realidade de um grupo relevante.
O Guarani é Campeão Brasileiro de 1978? A resposta é positiva, assim como também é o vencedor da Taça de Prata de 1981, vice-campeão brasileiro em 1986 e 1987 e participante da Copa Libertadores em três oportunidades. Projetou craques do naipe de Zenon, Careca, Renato, Jorge Mendonça, Djalminha, Amoroso, Luizão, Júlio Cesar. Tem um estádio sede de um amistoso da Seleção Brasileira em 1990. Motivo de orgulho. Celebração total.
Só que não adianta relembrar e lambuzar-se com o passado sem encarar o presente. Vadão pode viabilizar uma boa campanha, subir para a Série A do Brasileiro e ainda assim nada vai apagar fatos desabonadores. Ou dá para ter orgulho de nove rebaixamentos? Ou o time deve celebrar que desde 2010 não sabe o que é atuar na divisão de elite nacional e há quatro anos não enfrenta o seu principal rival? Ou dá para ter orgulho de encontrar-se há quatro temporadas na Série A-2 do Campeonato Paulista?
Reconheço que a paixão do bugrino mantida em tais circunstâncias negativas é de se admirar. E aplaudir de pé. Vencer um jogo contra o Figueirense não apaga infelizmente a realidade: o Guarani entrou na Série B em patamar inferior até aos concorrentes. Por que? Primeiro porque seu patamar financeiro é inferior aos principais concorrentes, como Goiás, Internacional e o próprio Figueirense. Nos últimos anos, o Guarani ficou focado muito mais na questão emergencial do que na construção de uma infra-estrutura capaz de alcançar os principais clubes do Brasil. Que ninguém queira agarrar-se na crise financeira como álibi. O Criciúma, por exemplo, teve problemas financeiros sérios e além de pagar a dívida conseguiu melhorar sua infra-estrutura com um Centro de Treinamento moderno, algo seguido por Ceará e Goiás, estes sem mecenas por perto. O Guarani pode surpreender e subir? Pode. No entanto, o atraso é latente.
Não adianta querer tratar o torcedor como uma criança e achar que ele não pode ouvir a verdade porque senão sua revolta será detonada. Falar de modo doce de certa forma, se não conter doses de sinceridade é mera manipulação. Grosseira. É a partir da verdade, da busca da excelência que o Guarani crescerá. Fora disso, uma vitória só será usada para manipular e e produzir quadro oco e artificial. O torcedor bugrino não merece ser enganado. Só a verdade, seja em prognóstico de jogo ou cobertura nos bastidores poderá evitar o pior: o autoengano.
(análise feita por Elias Aredes Junior)