Uma reflexão sobre o desejo (legítimo!) da Ponte Preta querer ser campeã

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A oportunidade aparece. Não dá segunda chance. Os campeões entram para a história não só pela sua competência, mas por sua perspicácia. São características que os torcedores da Ponte Preta aguardam há anos. Ela quer levantar o caneco. Precisa triunfar. Carimbar o rótulo de quinta força paulista.

A Ponte Preta sabe que tem a força. Pode fazer a história. Duro é suportar em algumas oportunidades os discursos realistas salpicadas de derrotismo. É verdade que a disparidade das cotas de televisão tornam o equílibrio um conceito distante no Campeonato Brasileiro. Não há como contestar a força de um Corinthians e Flamengo com R$ 170 milhões na mão para contratar enquanto a Ponte Preta tem R$ 25 milhões. É covarde. Eu diria até desumano.

Tal quadro não pode bloquear a sensibilidade em relação as oportunidades que podem surgir. Seja no Campeonato Brasileiro ou na Copa do Brasil. Ok, vai lá, coloque a Copa Sul-Americana e o Campeonato Paulista nesta conta. Inadmissível é deixar de lutar antes de tudo acontecer.

O continente Europeu mostra que é possível sonhar

Faça uma pesquisa pelo mundo da bola. Admito que são raros os exemplos de equipes menores ou de médio porte que fizeram história. Mas os casos existem. São registrados por dois motivos: eles aproveitaram a oportunidade e utilizaram a excelência que tinham á disposição. Tudo dentro de um planejamento coerente, focado no profissionalismo e que busque resultados em médio e longo prazo. Tempo demais? Sim. Só que uma hora a chance aparece. Tem que agarrar. E colher o fruto

O discurso financeiro derrotista reina no planeta bola não é de hoje. O que diferencia um do outro é quem se entrega a esse discurso e quem acredita no seu potencial e aposta contra a lógica. Se este mote do fracasso fosse válido desde sempre como explicar então as conquistas de Valência (2001/2002 e 2003/2004) e do Atlético de Madrid (2013/2014) no Campeonato Espanhol? Quando triunfaram, estas duas equipes não eram favoritas. E Real Madrid e Barcelona já eram potências estabelecidas. Com dinheiro, craques e torcedores fanáticos. Os intrusos roubaram a festa. Sem pudor.

Mesmo modelo aplica-se na Itália. Internazionale, Milan e Juventus são gigantes, quase inalcançáveis. Desde sempre. Então, como justificar o título da Lázio na temporada 1999/2000 e da Sampdoria na temporada de 1991/1990? Pois é.

Futebol e título não podem ser para alguns.

Tem que ser ao alcance de todos.

Não quero fazer análise sociológica, mas é inevitável.

Alguns torcedores, dirigentes, cronistas esportivos e jogadores da Ponte Preta talvez tenham esta visão conformista e resignada sobre as possibilidades da Macaca em levantar um caneco talvez por causa da própria condição social e econômica do pais e pela formação de base social.

Um país ainda que ama privilegiar poucos, que se recusa ou dificulta o acesso de riquezas para as classes mais baixas e que considera no seu subconsciente a escolha de liderança apenas para uma meia dúzia de iluminados. Poucos com muito. Muitos com quase nada. E achamos normal.

Pegue este quadro e também observe como muitos na área esportiva consideram normal a Ponte Preta ser uma figurante de luxo. Não porque ela não tenha potencial. Mas pelo fato de que assim como na  vida social, parece que existe um pacto para impedir a ascensão de novos protagonistas para repartirem este bolo chamado futebol. É tudo para 12 personagens e os outros que se contentem em fazer figuração. Desigualdade de renda e de oportunidades. Assim como no Brasil real.

O dia que a Ponte Preta incutir definitivamente a ambição vencedora como rotina em sua alma, ela não prestará um favor apenas a sua história e seu legado. Ela trará alento para aqueles que sonham com um futebol inclusivo, democrático, popular e que abra possibilidade de qualquer um gritar uma expressão simples e profunda: sou campeão.

(análise feita por Elias Aredes Junior)