A infeliz escolha de Aranha: de oprimido a opressor

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Aranha foi protagonista de um dos episódios mais tristes do futebol nos últimos anos. Foi chamado por macaco por boa parte da torcida do Grêmio em 2014, em um caso que caiu nas costas da torcedora Patrícia Moreira. Eu, como negro, fiquei extremamente sensibilizado, mas não fui o único. Todos se uniram pela causa e repudiaram o episódio de racismo. Não precisa ser negro para ser contra o racismo.

No último sábado, após a classificação da Ponte Preta contra o Palmeiras, Aranha fez uma escolha infeliz. Passou de oprimido a opressor. E não é por ter sido vítima no passado que ele ganha o direito de ser agressor. Uma declaração de homofobia que não pode ter mais espaço na sociedade.

Confira a declaração do jogador ao ser questionado sobre sua forma física por um repórter do Fox Sports, Gudryan Neufert:

Tenho treinado, tenho treinado. É que às vezes tem cara, tem jornalista, que gosta de homem, gosta de homem sarado, gosta de cara que tira a camisa, fica mostrando o abdômen. Respeito a opção sexual de cada repórter, mas estou tranquilo. Estive aqui no Palmeiras, o Palmeiras tem um setor de fisiologia ótimo, sempre estive dentro dos padrões, não sou nenhum garoto, mas sempre tive dentro do padrão limite, aceitável para a prática do futebol, tanto que passei sete anos praticamente em time grande – disse Aranha.

Mas, Júlio… Sim, eu sei que o futebol tem cultura preconceituosa, machista e por consequência gera muita homofobia – haja vista o idiota grito de “bicha” em alguns estádios no tiro de meta. Porém, não vou e não sou obrigado a compactuar com isso. É preciso refletir.

Por mais absurdo que possa ser, o caso se depara no discurso de que no futebol pode tudo. O raciocínio de ir na ferida para atingir o outro lado. Então temos um código próprio moral e ético no futebol? Calma, isso não existe. É impossível analisar uma situação no esporte a parte da sociedade. Um está dentro do outro.

Eu, na minha profissão, gostaria de ter jornalistas comprometidos, de boa qualidade, bons conceitos. E a sexualidade deles não me importa nada, até porque isso é uma escolha pessoal e na frente de qualquer opção sexual basta olhar a qualidade e o comprometimento em qualquer ramo.

Se o futebol é capaz de se aproveitar da sua simplicidade para reunir pessoas de diferentes idades, raças, nacionalidades, sexos e gêneros em torno do objetivo único em comum de colocar a bola entre duas traves mais vezes do que o adversário, por que não acreditar que seria possível reunir pessoas em torno desse objetivo também.

Aranha, repense sobre sua escolha. É preciso se unir para lutar contra todo tipo de preconceito na sociedade. E o futebol precisa ser o nosso aliado e não ESCUDO.

#paz

(crônica de Júlio Nascimento)